segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Olhando para cima Tantos comentaram sobre o filme Não olhe para Cima que o jeito foi assistir. A ironia em toda a história até me divertiu, mas confesso que a realidade ali contida me incomodou, principalmente quando se descreve a que ponto somos monitorados e controlados desde 1994. Amamos toda a conectividade e interatividade, nós, brasileiros comunicativos e agregadores, mas isso nos faz presas fáceis. Viramos objetos, marionetes, mas amamos tudo isso e não ligamos. Assusta.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Sem Facebook

Brasília, 15/05/2017

Tô há alguns dias sem acessar Facebook.

Mas pera lá! Pra quem este texto irá se não for pros seguidores e amigos virtuais? Talvez seja a hora de reativar meu blog...

Ah solidão e carência de se perceber sem troca alguma de curtidas ou comentários!!! Ninguém pra ver as fotos que postamos, pra reagir a reclamações ou ideias que publicamos.

Mas como era a vida antes das redes virtuais? Deixa eu tentar lembrar: ah, nos tempos de escola, sempre tinha uma melhor amiga com quem batíamos papo horas a fio pelo telefone (com fio) e isso deixava nossos pais desesperados, pensando na conta de telefone no fim do mês. Daí criaram o "salto", aquele sinal sonoro que avisava se alguém tentasse ligar e o telefone estivesse ocupado.

Ah e tinham amigos com quem saíamos pra cinema e lanchonete. E amigos que tínhamos na rua, no prédio, pra quem se interfonava, chamando pra descer e brincar. Ou amigos de cursos, esportes que praticávamos, com quem interagíamos no cotidiano.

E tinham refeições em família, quando uns perguntavam aos outros "como foi seu dia?", "o que você tá lendo?", "como foi a novela ontem?", “como está seu namoro?”ou “por que você tá triste?”.

E não podemos esquecer aquelas saídas com a turma da faculdade ou do trabalho pra falar de política ou filosofar sobre a vida numa mesa de bar.

E fazíamos encontros regulares de família, com direito a registros em fotos Kodak ou Fuji reveladas em 9 x 12 e depois em 10 x 15 cm. Ah mas antes disso tivemos os slides, exibidos em sessões projetadas na parede da sala, com os familiares comentando sobre os lugares visitados e situações vividas.

Sabíamos uns dos outros porque convivíamos, ligávamos uns para os outros, não por compartilharmos de maneira genérica nosso cotidiano numa linha do tempo aberta a conhecidos, colegas e uma rede de contatos que nem sempre reflete nossos laços mais diretos e íntimos. Aliás, pessoas distantes passam a nos acompanhar como se fossem da família, interagindo muito mais do que nossos próprios familiares. Isso leva a refletir sobre as “famílias”que vão se formando a partir de amizades, pessoas que se aproximam por compartilharem objetivos de vida e pontos de vista.

A intimidade, aliás, deixou de ser reservada, deixou de ser íntima!!! Não existe mais!

Acostumamo-nos a dizer onde vamos, com quem estamos, o que comemos, para onde viajamos, em quem votamos ou não votamos, quem odiamos, sem nenhum pudor ou cuidado. Ninguém se importa mais se palavras magoam, se ideologias têm maior valor que amizades, elos e sentimentos entre as pessoas.

Depois de alguns dias de abstinência virtual, zonza, trêmula, desintoxicando-me de um vício mais forte do que químico. Sinto-me sozinha sem o hábito de ver a vida dos outros passar no rolar da tela, e sem falar da minha vida e assim me sentir acompanhada pelas curtidas e comentários. De pensar que há pessoas que vivem sem isso e se sentem felizes! Talvez por isso vivam em paz e sejam de fato felizes...

Decidi parar ou dar uma pausa. Vinha me sentindo sozinha pelas centenas de amigos virtuais que gostaria que fossem mais reais, mais concretos. Andava cansava da enxurrada de agressões, piadas e acusações partindo da esquerda ou da direita; das correntes de "copie e cole no seu mural"; dos dias de luto generalizado e de homenagens sem fim após a morte de cada celebridade.

Como agência de notícias não há nada mais rápido do que as redes sociais, admito. As pessoas correm pra publicar as novidades, como se fossem jornalistas dando "furos" e muitos – como eu! – se informam por ali, ao mesmo tempo em que se atualizam com o equivalente virtual à revista Caras!!!

Mas as redes também funcionam para propagar boatos e têm o devastador poder de destruir vidas e reputações. Basta um mal- intencionado postar algo contra alguém que a coisa se espalha, sem nenhuma apuração. Condena-se sem qualquer análise, antes mesmo da existência de uma acusação formal. Simplesmente denigre-se a imagem de uma pessoa apenas porque o caluniador assim decidiu e propagou. Julgamentos e inquisições da era moderna...

Para suprir a falta de contato com o mundo, passei então a buscar informações nos portais de jornalismo, que se copiam e exibem os mesmos assuntos, com manchetes ligeiramente modificadas, intercalados por fofocas e curiosidades. E, claro, repletas de anúncios que nos saltam na tela, trazendo sempre artigos relacionados a nossas buscas e pesquisas recentes. Marketing direto, indigesto, inoportuno, desagradável.

Mas as redes sociais são boas mesmo é para fazer o tempo passar. Fila de banco e espera em consultório médico agora não são mais a tortura de antigamente. "Já?!", lamentamos quando chega nossa vez e precisamos nos desligar das redes e dos grupos.

Hoje, você publica uma foto e depois fica vendo quem a curtiu. Você faz uma publicação e torce para ter centenas de curtidas e comentários. Fica monitorando cada reação a suas publicações. Narcisismo, vaidade, exibicionismo? Solidão, carência? Interesse, poder, fama? A popularidade poderia significar compensação ao vazio da vida real, ou estratégia para futuros projetos que envolvam notoriedade, atestado de vida pública, pseudo-credibilidade. Ou simples alimento para a alma, troca de ideias sobre determinado tema, debate virtual, sondagem de opinião, provocação intelectual. Diversos são os usos e fins possíveis.

Alguns usam as redes para expor sua preocupação social, inspiram o altruísmo, estimulam suas redes a se engajarem em causas humanitárias, promovem campanhas solidárias ou de conscientização sobre certos temas. Aqui entramos todos nós, inconformados com as injustiças, as desigualdades, a violência, o preconceito de todo tipo. De boas intenções as redes também estão cheias. Que bom, afinal, precisamos continuar fazendo o bem e acreditando nele!

Outros divulgam dicas de segurança – ou de sobrevivência, pois vivemos no país da impunidade e dos esquemas de corrupção em todas as esferas. Com a falta de Educação e a escassez de oportunidades, quem se profissionaliza e enriquece são os golpistas e bandidos. Devemos ficar atentos e suspeitar de tudo que nos chega por mensagens, links, sites, pop-ups, enfim, golpes chegam todos os dias. Na dúvida, não clique em nada e não compartilhe!

Ah mas de todos os usos, aquele que mais me interessa pessoalmente é poder declarar o amor, seja à mãe, ao pai, aos filhos, aos amigos, irmãos, seja à mulher ou ao homem amado. Não basta sussurrar no ouvido, na hora de dormir ou nos momentos de intimidade! Falar aos quatro cantos, estampar nas paredes e muros e se declarar amante (= aquele que ama) é muito mais legal e emocionante!

Quem escreve sente tesão em falar de amor, de paixão, de alegria, de tristeza, de dor, de prazer, de sonho, de sentimento! Escrevemos para expressar emoções e também para emocionar ou provocar alguma reação em quem lê. Como hoje não se vende livro como se vendem séries de TV ou pacotes de dados, publicamos virtualmente os textos que há tempos atrás comporiam obras literárias impressas. Mas as redes sociais teriam alguma forma de compilar e salvar os textos que publicamos, com o devido crédito do autor (nós mesmos)? Ou tudo estaria fadado ao anonimato (ou à falsa titularidade atribuída a qualquer famoso), à instantaneidade e à perenidade do virtual? Afinal, nem cinzas sobram do que não se pode tocar!

Agradeço a você que leu minhas divagações até aqui! Não precisa compartilhar! Nem curtir! Se algo lhe fez refletir ou sorrir, que ótimo! Quer me chamar para uma cervejinha? Seria ótimo! Vamos esperar surgir uma cerveja virtual de qualidade! Abração!

Marília Serra

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Chão

Não sei onde estava com a cabeça quando, um dia, me apaixonei.
Na verdade, deve ter sido ali que a perdi.

Esta é a verdade, a paixão destrói neurônios, turva a visão.
Impressionante como se fica alterado sob seu efeito.
Hoje não vivo mais isso e, assim, tenho o pé mais no chão.

Claro que era bom levitar, sonhar acordado, “viajar”.
Mas cansa não conseguir controlar as emoções.
Hoje tenho total controle da razão, mas,
cá entre nós, como é triste e chato isso, não?

Só reclamar não adianta

* Marília Serra

Morei no exterior algum tempo quando ainda era estudante. Conheci alguns países e constatei, entre outras coisas pequenas, que é possível viver de maneira organizada e que as ruas podem ser mantidas limpas, por exemplo. Basta não sujar.

Nesses países, você paga impostos altos e tem retorno na forma de transportes coletivos bons, pontuais, limpos e bem mantidos. Há retorno também em educação pública e segurança de qualidade.

Mesmo tendo vivido fora, admito que prefiro viver no Brasil, pelo clima e sobretudo pelo jeito brasileiro de conversar uns com os outros, mesmo não se conhecendo. Numa fila de espera isso faz uma diferença! Há também o aspecto flexível dos brasileiros que nos permite trocar a azeitona por picles num sanduíche, coisa impossível em países nórdicos onde pedir para alguém sair da rotina é como incitar a desordem. Se não está no cardápio, não é possível e ponto final.

Mas há brasileiros que se gabam de terem experiência internacional e vivem criticando o Brasil. “Isso é um absurdo!”, esbravejam à primeira coisa que veem não funcionar ou funcionando de modo “pouco usual”.

Não defendo a complacência, a tolerância e a conivência ante transgressões, muito menos a indiferença e a inércia ao se deparar com atos ilegais ou desonestos. Pelo contrário, sou contra quem critica e não faz nada para mudar aquilo que desaprova.
O que não suporto é conviver com pessoas arrogantes, que passam o tempo reclamando e fazendo pouco das coisas do Brasil. Que se vão, que voltem ao primeiro mundo, ora bolas!

Mas voltemos ao que não funciona aqui, porque isso tem aos montes em nosso maravilhoso país tropical de praias deslumbrantes, pessoas simpáticas, música e futebol envolventes. Há muita coisa errada, muitos atos desonestos em nosso dia a dia, gente que quer levar vantagem, que passa à sua frente numa fila, que te desrespeita sem nenhum pudor, escrúpulo ou culpa.

Na esfera política, há interesses individuais passando a todo momento por cima do coletivo. Há, por exemplo, corrupção na forma de desvios de dinheiro público que deveria ir para a saúde, educação e segurança e esse comum tipo de crime já seria passível de cadeia e punição eterna. Mas a tolerância das leis e de governantes comprometidos com o toma-lá-dá-cá entre partidos faz com que pessoas que cometem esses atos permaneçam ou voltem à vida pública, tornando nosso país um lugar pior para se viver, de fato.

Mas isso não pode ser generalizado. Nem todos são assim e nós, cidadãos corretos e honestos que trabalham e pagam suas contas, não compactuamos com essa falta de vergonha na cara.

Assim, provoco e convoco as pessoas indignadas com coisas erradas a se imporem para reivindicar direitos, a não cederem às tentações do ganho fácil e das vantagens. Dinheiro sujo (ou “lavado”) não vale a pena, pois significa financiamento da miséria e da violência que atinge a todos nós. E vantagens muitas vezes são sinônimo de desonestidade, total falta de ética. E isso ensino a meus filhos que é errado!

Vamos trabalhar e fazer de nosso país um lugar melhor para se viver, de preferência com pessoas de valor, éticas e sérias em postos de liderança. Só reclamar não adianta. Faça a sua parte e participe de movimentos de cidadania em sua vizinhança, sua prefeitura de bairro, sua rua. A mobilização faz a força e a conscientização combate vários males em nossa sociedade.


*Marília Serra é jornalista, servidora pública e acompanha as discussões da Prefeitura e do Conselho Comunitário de seu bairro.

sábado, 7 de maio de 2011

Carta aberta ao Supremo Tribunal Federal de Toni Reis*

No dia 5 de maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal votou unanimemente a favor do reconhecimento da união estável homoafetiva no Brasil. Foi dez a zero literalmente. A decisão inédita me motivou a escrever esta carta de agradecimento e reflexão. Os dias 4 e 5 de maio de 2011 ficarão gravados em nossas mentes e corações como sendo os dias em que nossas vidas mudaram para sempre e para melhor.

Além disso, é um momento de festejar e também de agradecer. Obrigado ao STF por nos ter considerado pessoas – cidadãos e cidadãs – portadores de dignidade que devem ser tratados em pé de igualdade. Nos últimos tempos alguns parlamentares e alguns religiosos homofóbicos tentaram abalar nossa autoestima, humilhando-nos com suas falas obscurantistas, arrogantes e autoritárias a nosso respeito, igual aos que achavam que a terra era quadrada e nos queimaram na fogueira. Não é mera retórica dizer que o STF lavou nossa alma. E lavou com as próprias lágrimas, cheias de emoção. Acima de tudo, o STF nos tirou do vagão de segunda classe e nos colocou no vagão de primeira classe. Ou dito de melhor forma, disse com todas as letras que, no Brasil, não existem vagões de segunda, terceira ou quarta classe. Somos todas e todos iguais!

Não estamos sós na pugna pela igualdade, dignidade e cidadania. O STF agiu de fato como guardião da lei maior, a Constituição Federal. E o melhor de tudo é que Brasil inteiro ganha com a decisão do STF. Ninguém perdeu. O Brasil ficou maior, mais belo, mais colorido, mais humano e mais feliz. O líder indiano Gandhi, se estivesse vivo, nos lembraria que uma sociedade deve ser julgada pelo tratamento que dá às minorias. O STF protagonizou um dos momentos mais emocionantes da história deste país. Pronunciou em alto e bom som um reconhecimento do Estado Laico e do Estado de Direito, de forma firme e vigorosa, assumindo papel de vanguarda, mostrando que, se por um lado ainda vale o ditado “dura lex, sed lex”, por outro a Justiça é maior do que a lei. Sendo mais justo, o Brasil torna-se também melhor, mais atual e mais humanista. E com ele também o mundo.

E o que parece ter sido apenas um passo para o Judiciário constitui-se num grande passo para a comunidade LGBT. A decisão do STF abre caminho para que, aos 60 mil casais homoafetivos recenseados pelo IBGE, se somem milhões de outros casais que ainda vivem sob o medo da chacota, da discriminação e da exclusão social.

Faz-nos recordar o processo que conduziu à libertação dos escravos. A decisão proferida em 5 de maio de 2011 representa, de certa forma, a Lei dos Sexagenários e a Lei do Ventre Livre. Mas importa agora prosseguirmos na luta para chegarmos à Lei Áurea.

Sabemos que a equiparação de direitos entre casais homoafetivos e heteroafetivos não vai, sozinha, aumentar ou diminuir a felicidade, mas ela nos dá segurança que precisamos nos momentos de infortúnio.

Felicidade é algo que todo ser humano almeja, e segundo Aristóteles é a finalidade da vida. A decisão do STF contribuiu para que ela esteja mais ao alcance de uma enorme parcela da população antes excluída, através da busca por afeto e pelo amor. Como disse o poeta Fernando Pessoa, “Importante é amor, o sexo um acidente; pode ser igual, pode ser diferente!"

O amor venceu. Para os religiosos que se posicionaram contrários, eu – como cristão – quero deixar uma mensagem muito transparente, baseada na filosofia cristã, relembrando que nós ganhamos, e vocês também não perderam. O Brasil inteiro ganhou:

“Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, se eu não tivesse o amor, seria como sino ruidoso ou como címbalo estridente” (1 Coríntios, 13.1). Nossas relações têm amor e devem ser respeitadas.

“De fato, os mandamentos ... se resumem nesta sentença ‘Ame o seu próximo como a si mesmo.’ O amor não pratica o mal contra o próximo, pois o amor é o pleno cumprimento da Lei” (Romanos, 9-10).

“Se cumprirem a lei mais importante da Escritura: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’, vocês estarão agindo bem. Mas, se vocês fazem diferença entre as pessoas, estão cometendo pecado” (Tiago 2, 8-9).

“Não julguem, e vocês não serão julgados. De fato, vocês serão julgados com o mesmo julgamento que vocês julgarem, e serão medidos com a mesma medida com que vocês medirem. Por que você fica olhando o cisco no olho de seu irmão, e não presta atenção à trave que está no seu próprio olho?” (Mateus 7, 1-3). Todos somos diferentes uns dos outros, a diversidade humana deve ser respeitada.

Setores minoritários vão criticar a atuação do STF. Porém, o tribunal nada mais fez que exercer seu trabalho esplêndido, o de interpretar, proteger e fazer aplicar a Constituição.

A formalidade e a sisudez são marcas do Supremo Tribunal Federal, portanto não entendam isso como falta de respeito, mas nos próximos encontros faço questão de dar um forte abraço e um afetuoso beijo no rosto de cada ministro e de cada ministra. Tocaram fundo em nossos corações, trazendo uma alegria inigualável com seus votos e manifestações. A seu modo, cada um colocou uma peça que compôs ao final uma bela imagem!

Havíamos conversado com alguns membros da Corte Suprema. Sabíamos que havia propensão para a vitória, mas não imaginávamos que seria por unanimidade, uma verdadeira goleada. Nossa placar era 7 a 3, ou 6 a 4. Mas 10 a zero foi maravilhoso. 10 a zero para a dignidade, a igualdade e a solidariedade. Zero para o preconceito! “Liberté, égalité, fraternité!” Foi a queda da Bastilha em nosso país, sem que ninguém tenha ido para a forca. Os únicos perdedores foram o preconceito, o estigma e a discriminação.

O Governo Federal tem colaborado conosco há tempo, tal como o Judiciário. Mas agora será a vez do Congresso Nacional. Lá temos alguns aliados e algumas aliadas assumidos, muitos outros “no armário” e ainda um pequeno porém intransigente grupo homofóbico. É preciso que os que estão em cima do muro também venham para a arena do iluminismo e empunhem a defesa dos princípios da nossa Constituição. O STF agiu como uma lamparina e uma lanterna para o Congresso Nacional, mostrou o caminho e forneceu fartos argumentos, todos de primeira grandeza.

Afirmaram, entre muitas outras coisas, que ninguém, absolutamente ninguém pode ser privado de seus direitos nem sofrer quaisquer restrições de ordem jurídica por motivo de sua orientação sexual; que a orientação sexual de cada indivíduo não pode ser utilizada como argumento para se aplicar leis e direitos diferentes aos cidadãos; que é papel do Poder Judiciário suprir lacunas caso o Congresso Nacional, responsável por criar leis, não tenha garantido legalmente direitos civis aos homossexuais; que a união homoafetiva pode ser identificada como entidade familiar merecedora de receber proteção estatal; que todos e todas, sem exceção, têm direito a uma igual consideração; que uma sociedade decente é uma sociedade que não humilha seus integrantes; que o Brasil está vencendo a guerra desumana contra o preconceito...

O STF conseguiu sistematizar os anseios mais profundos do movimento LGBT e, por extensão, de todas as pessoas que querem um mundo onde impere a igualdade e não a exclusão social. A decisão do STF provocou um tsunami maravilhoso da cidadania brasileira, demonstrando que a ausência de lei não significa a ausência de direitos.

A vida tem a cor com que a pintamos. O STF reconheceu e afirmou que a vida e a sociedade realmente são um arco-íris, símbolo do movimento LGBT no mundo inteiro. Temos a maior parada LGBT do mundo, e ontem o STF se mostrou entre os tribunais mais avançados do mundo. Temos orgulho de ser brasileiros e brasileiras.

Em Brasília a inércia e o conservadorismo do Congresso Nacional deram lugar à agilidade, à temperança e ao bom senso, que rasgaram o papel da hipocrisia. O STF teve coragem e ousadia, sem perder o rigor no seu dever de interpretar a Constituição, enquanto o Congresso permanece inerte, salvo raras exceções.

No dia 18 de maio, por ocasião da II Marcha Nacional pela Cidadania LGBT, queremos dar um grande abraço (hetero e homo)afetivo em volta do STF e soprar para fazer os ventos que façam as luzes do STF atravessar a rua e chegar até o Congresso Nacional.

Vida longa aos que, como Martin Luther King, sonham e pensam numa sociedade em que não haja discriminação, preconceito e estigma. Vida longa à ABGLT, aos movimentos igualitários e a todos nossos aliados e aliadas.

Parabéns ao Superior Tribunal Federal do Brasil, exemplo de convicção e firmeza na defesa da plenitude da cidadania!


*Toni Reis

Professor
Especialista Sexualidade Humana
Mestre em Filosofia
Doutorando em Educação
Presidente da ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (gestão 2010-2012).
Secretário do Conselho Diretor da ASICAL – Associação para Saúde Integral e Cidadania na América Latina e Caribe
Conselheiro do Conselho Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais do Governo Federal

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Liberty Mall – abuso!

O que leva um shopping a cobrar R$6,00 por hora ou fração para o estacionamento coberto? Esse preço já é abusivo, mas espere até ouvir quanto o shopping Liberty Mall, em Brasília, decidiu cobrar por uma tal “tarifa única a partir das 19h”: R$10,00. Isso mesmo: dez reais, independente do tempo de permanência no estacionamento.

Anteontem fui fazer uma compra rápida, levei menos de meia hora e paguei dez reais, o que considerei uma afronta, um abuso, um assalto a mão armada. E olha que sempre que decido estacionar em vagas nas garagens dos centros comerciais, estou pensando em fugir do risco de ser assaltada nos estacionamentos a céu aberto...

Resultado: decidi nunca mais voltar lá enquanto estiverem cometendo este acinte! E assim boicotar as lojas e todo e qualquer profissional que tenha sala nesse shopping (médicos, dentistas, etc.). A decisão me chateia pois há lojas ótimas para comprar presentes, por exemplo. O shopping é pequeno, não é daqueles em que você se perde ou perde o carro, de tão grandes e numerosas que são as alas, e você resolve o que quer rapidamente.

O governo local deveria impor a todos os estacionamentos privados que se cobre por minuto. Um dos shoppings de Brasília começou a fazer isso certa vez e achei bem razoável.

Espero que minha indignação possa mudar algo.

M.S., jornalista, em 07 de janeiro de 2011.