domingo, 13 de julho de 2008

Reclama mas faz!

O título deste texto foi motivado pela lembrança da máxima “rouba mas faz” pela qual ficou conhecido um famoso político do estado de São Paulo. Política é coisa complicada, envolve muito mais do que eu ou você achamos sobre ética, moral, certo e errado. Uns se elegem para votar projetos de interesse próprio, outros para garantir a impunidade, ou melhor, a imunidade assegurada pelo cargo. Outros elegem-se em nome de terceiros que lhes financiam as campanhas mas não querem aparecer e para quem o importante é influenciar o toma-lá-dá-cá de cargos públicos e o poder de decisão. Sinceramente não sei como dormem fazendo tanta coisa errada, supostamente pelo povo, quando o que fazem é justamente ferrar o povo...

Mas meu texto não é sobre política. É sobre cidadania. É um exercício para tentar entender a dinâmica dos que criticam e nada fazem. Recentemente iniciamos trabalho voluntário para melhorar nossa quadra e passamos a ter contato com esse fenômeno social. Começamos a perceber pessoas que não se comprometem ou se dedicam a nada que envolva tempo e trabalho voluntário, pior ainda: não se informam sobre o que acontece e passam o tempo apenas criticando.

Será que ninguém pensa no bem comum ou na responsabilidade social? Imagino que não devam ter muita familiaridade com termos como voluntariado ou desconhecem completamente a importância, a complexidade e o significado de viver em sociedade.

Deve ser egoísmo ou falta de visão “meter a lenha” em quem investe tempo e tenta criar uma representatividade para a comunidade. Estamos aprendendo que nossos ofícios e telefonemas em nome de todos têm mais poder do que a antiga insatisfação anônima e passiva. Nossa quadra começa a ser conhecida pelas autoridades do Distrito Federal como uma quadra organizada, que reivindica atenção e cuidado do governo e que tem voz.

Decidiu-se cobrar de cada apartamento da quadra uma taxa para ajudar com custos da recém reativada Prefeitura (Associação de Moradores). Entre esses custos há a remuneração de jardineiros fixos e a compra de material de jardinagem, pois a limpeza e a manutenção diária dos espaços verdes da quadra não são infelizmente da alçada do governo. A quadra está visivelmente melhor tratada desde o início das atividades da Prefeitura.

Há custos com fotocópias para fazer chegar aos síndicos e moradores informação sobre o que vem sendo feito e custos com um contador profissional que registra cada despesa e cada entrada de dinheiro. Há também parte dos custos de um jornal que, para ser rodado, depende ainda de publicidade e de diversos voluntários. Não pensem que não gostaríamos de fazer um jornal mais assíduo e mais atrativo. Simplesmente não aparecem voluntários para diagramar, para bater fotos, fazer ilustrações, nem nos chegam sugestões de pautas! Uma única pessoa se comprometeu a redigir notícias. Juntam-se as informações à medida que surgem e então tenta-se viabilizar o jornal, um desafio de persistência!

Dos nove prédios da quadra, um deles, o menor, decidiu que não iria aderir à Prefeitura, num gesto pelo menos preocupante de falta de coleguismo e de espírito coletivo. Entre os moradores desse prédio, um já nos procurou e começou a contribuir isoladamente, atitude fantástica e admirável, pois demonstra consciência. Ou seja, dos dezesseis apartamentos, pelo menos um já percebeu a importância de nossa mobilização.

Dos moradores que vêm contribuindo, alguns começaram a manifestar impaciência e desesperança e ameaçam parar de contribuir. Motivo: a Prefeitura não consegue acabar com os moradores de rua!!!

Gostaríamos que essas pessoas dessem sugestão de como acabar com esses intrusos que estão invadindo não só nossa quadra mas toda a cidade, uma das consequências de anos e anos da “rorização” da qual fomos vítimas e também cúmplices. Pelo que se sabe, extermínio em massa não está entre as atribuições e os objetivos de uma associação de moradores...

Ao contrário das pessoas que reclamam de tudo mas não levantam do sofá, membros voluntários da associação de moradores reúnem-se com frequência com representantes de diversas outras quadras, do Conselho de Segurança da Asa Sul, das polícias civil e militar do Distrito Federal, do Conselho Comunitário do Plano Piloto e da Secretaria de Ação Social. O assunto que mais vem à voga, entre outros ainda piores como tráfico de drogas e assaltos: moradores de rua. Todos enfrentam o mesmo problema. Ninguém conhece solução simples e definitiva.

Nos primeiros meses de atuação da associação de moradores, conseguiu-se desmontar um acampamento armado em pleno espelho d’água e, desde então, por iniciativa dos membros da Prefeitura, que telefonam, mandam ofícios, reclamam e cobram, já foram realizadas diversas diligências de funcionários da Ação Social e da polícia para retirada dos indigentes que são levados a abrigos do governo e, mais dia menos dia, acabam fatalmente voltando.

Há um fator importantíssimo a ser destacado: a lei brasileira não prevê a prisão de pessoas que não estão, em tese, infringindo lei alguma. Os mendigos argumentam o tal “direito de ir e vir” e vão se deslocando de esquina em esquina, se instalando onde conseguem comida, roupas e esmola. A sociedade não ajuda na ação das autoridades e continua mantendo essas pessoas nas ruas. Enquanto isso, os “elementos” vão sujando tudo, fazendo barulho, sexo e necessidades fisiológicas debaixo de nossas janelas.

Os colaboradores da associação de moradores, também vítimas desse mal, revoltam-se em igual medida. TODOS deveriam levantar de seus sofás e contribuir para, juntos, mudarmos essa situação. Temos que tornar pública nossa indignação! Promover caminhadas de protesto, ações de conscientização nas escolas e igrejas, e através da imprensa, para que as pessoas parem principalmente de dar esmola e de ter pena dessa gente. Só assim conseguiremos afastá-los de nossa vizinhança. Por que se instalam próximos a restaurantes, mercados e igrejas? Porque as pessoas ajudam. Que interesse teriam de sair dali? Vida fácil...

Sejamos realistas pois não é pagando simbólicos dez reais por mês (taxa da associação de moradores) que iremos sanar todos os problemas da sociedade e tornar nossa quadra uma ilha da fantasia. Brasília já não é mais a mesma e o que temos que mudar é nossa mentalidade passiva. É hora de agir e não de simplesmente reclamar sem fazer a nossa parte.

Voltando ao “Rouba mas faz” do início deste texto, propomos o “Reclama mas faz” porque ficar sentado reclamando de quem está fazendo alguma coisa é simplesmente inaceitável. Vamos parar com as críticas sem sugestões, sem comprometimento para melhorar. Ninguém da associação de moradores trabalha voluntariamente, à noite e durante finais de semana, porque acha lindo, porque ganha dinheiro – pelo contrário, muitas vezes paga-se do próprio bolso para as coisas acontecerem! Cada um deveria fazer a sua parte ou pelo menos valorizar aqueles que estão comprometidos com o bem estar de todos.

Informe-se sobre o que está acontecendo antes de reclamar. Participe das reuniões em sua comunidade. Venha reclamar conosco das autoridades, dos responsáveis pela segurança, pela limpeza urbana, pela trânsito, pela educação, pois ainda há muito a melhorar em nossa cidade! Afinal, você faz parte da sociedade tanto quanto nós.

sábado, 5 de julho de 2008

Justiça E Paz Para Todos

Em resposta ao triste acontecimento na capital federal, em que um caseiro violentou, assassinou e enterrou uma jovem dentro da própria casa, o que queremos é justiça e firmeza das autoridades. O indivíduo desequilibrado que cometeu este crime em Brasília já havia sido detido na Bahia - e solto cinco dias depois. O que podemos esperar deste sistema ineficaz?!

Primeiro de tudo: coloquem os presidiários para produzir, trabalhar oito ou mais horas por dia como todos nós fazemos. A prisão não serve de nada se não educa, se não disciplina. Que os presídios se tornem auto-sustentáveis e que a justiça poupe à sociedade o ônus de sustentar aqueles que roubam, estupram e matam. Com um sistema carcerário mais inteligente, além da economia aos cofres públicos, criariam-se perspectivas profissionais, possibilidades de reestruturação e de melhoria das condições de superpopulação das prisões. Menos rebeliões, mais vagas, dinheiro para gerir tudo isto.

Em segundo lugar, fala-se de reforma do Judiciário. Precisamos é da reforma das leis que abrandam as penas. Todos têm pena de menores que nada mais são do que profissionais mirins a serviço de criminosos inescrupulosos que os usam - e sempre os usarão - para tocar seus negócios e não serem pegos. Todos têm pena do assassino que, na prisão, comporta-se bem. E quem tem pena das vítimas?? Até quando a sociedade pagará pela ineficiência do sistema?

Criam-se mecanismos de defesa que apenas mostram o quanto não confiamos e não podemos mesmo esperar por parte do Estado. Alarmes, películas, grades, câmeras, cercas eletrificadas nos mantêm em estado permanente de sítio. Nada é feito para prevenir os crimes. Espera-se que uma tragédia como a da jovem Maria Cláudia aconteça para se discutir o que está errado.

Tudo está errado, meus amigos. Tudo e todos, inclusive nós. Não diria que o problema é a distribuição de renda pois pessoas de bem ajudam quem não tem. O problema é a falta de fiscalização e de punição a quem burla leis. E o problema maior está nas próprias leis, que precisam ser revistas, discutidas pela Sociedade. Conselhos comunitários deveriam ser criados com membros de universidades, associações de moradores, estudantes, profissionais liberais, síndicos etc. Temos que participar mais na discussão de questões que nos dizem respeito.

Inevitável não tocar no assunto em se tratando de leis, perdoem-me o pequeno desvio. O legislativo e o executivo também precisam ser revistos. Que poder é este de legislar sobre as próprias causas? Se eu pudesse votar o meu salário, claro que minha vida seria outra... Pelo amor de deus, cidadãos como eu, vamos nos mobilizar para exigir decoro e modificações nas leis eleitorais, por exemplo. Quem tem antecedentes ou processos na justiça em seu nome não poderia nem se candidatar nem ocupar nenhum cargo público! Não é o que nos exigem em concursos? Outra coisa: para policiais e diplomatas, que, respectivamente, nos representam nas ruas e pelo mundo afora, há duros concursos, cursos de formação e de reciclagem. Por que não exigimos o mesmo dos que nos representam todos os dias no Congresso e nos demais órgãos públicos??

Deixemos a política e voltemos à violência das cidades. Claro que pessoas sem perspectivas de estudo, formação e emprego se desesperam e buscam dinheiro fácil. Apenas o crime oferece isso. Quem poderia dar-lhes o exemplo de retidão e de que o trabalho duro enriquece? E quem poderia dar-lhes o exemplo de que há punição e justiça?? Que o bem compensa?? Os exemplos são poucos. Menores que crescem sem exemplos do bem, do honesto, sem noções de certo e errado têm menos chances de desenvolverem o caráter para o bem.

A cada dia constato - com pesar - que a violência, meus amigos, é também fruto de nossa incapacidade - preguiça? falta de hábito? - de fiscalizar e de exigir eficácia e transparência dos poderes públicos. A violência é também conseqüência da falta de visão empreendedora e criativa do Estado e da falta de decência, de altruísmo e de humanidade de alguns profissionais em desviar verbas...

A tristeza, o medo e a indignação atingem a todos diante de crimes hediondos como o que aconteceu recentemente em Brasília. A análise do problema é sempre muito superficial e simplista. As soluções exigiriam uma reforma muito mais profunda em toda a sociedade e inclusive na administração pública. As vítimas de nossa inércia, indolência, negligência, apatia, preguiça - como queiram chamar - somos nós, ricos ou pobres. Lamentavelmente.

Minha solidariedade à família de Maria Cláudia e a outras tantas famílias que já passaram por situações tristes. Saibam que a revolta e o sentimento de justiça ainda existem - ainda que adormecidos. Aos que gostam de pregar em termos religiosos, que deus ilumine a mente das pessoas para mudar este mundo enquanto é possível. Queremos justiça e firmeza das autoridades e paz e segurança para todos!

Debate público sobre o Ensino Superior

Na edição nº 32 da revista da ABRUC – Associação Brasileira das Universidades Comunitárias, fala-se das discussões sobre a Reforma do Ensino Superior. A proposta, discutida há oito meses, será submetida a consulta popular antes de ser encaminhada pelo MEC ao presidente da República. A partir da assinatura de protocolos de cooperação, contribuem para o debate entidades formadas por afro-descendentes, indígenas, mulheres, trabalhadores rurais, jovens e diferentes linhas de pensamento do movimento sindical, além de representações da área acadêmica.

Discutem-se, entre outros temas, a duração mínima dos cursos oferecidos, os critérios de classificação das instituições de nível superior, a autonomia para a criação de cursos e para a assinatura de contratos e convênios e o controle de qualidade do ensino.

Esse tipo de consulta pública é extremamente importante para permitir o exercício da cidadania e a participação de diversos segmentos em importantes discussões e reformas.

O diálogo com a sociedade deveria ser uma constante na política pública brasileira. Para isso, o povo deveria se mobilizar e se organizar em grupos temáticos e regionais para participar das discussões em andamento.

A nossa democracia ainda é exercida de modo tímido e às vezes até preguiçoso... uma pena...

(2005)

Educação para políticos, por que não?

Para presidente da República, governador, deputado e senador federal, ensino médio completo. Para vereadores e prefeitos, ensino fundamental. Essa é a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apresentada recentemente pelo deputado federal Carlos Manato (PDT-ES). Se aprovada, representará um enorme avanço para o país. Se...

Muitos condenam esse tipo de proposta por a considerarem preconceituosa, uma vez que restringiria o acesso a cargos eletivos a pessoas que tiveram a oportunidade de estudar. É bem verdade que, num país com tantas desigualdades, arrisca-se a cometer injustiças quando o assunto é o acesso à instrução. Conselhos comunitários, associações de classes e outras entidades poderiam abrigar os “sem diploma” – há de se criar mecanismos para a participação de todos os que tenham idéias e queiram agir pelo social.

De todo modo, cargos públicos exigem conhecimentos de gestão, economia, administração, políticas públicas e capacidade de análise crítica de dados e de informações. Além disso, certas características poderiam ser citadas como desejadas ou inerentes à função: discernimento entre certo e errado, ética, moral, retidão de princípios, objetividade...

Todos que se candidatam deveriam saber ler para estudar as leis, as normas, os livros e os projetos existentes e para analisar propostas e reivindicações que lhes são apresentadas; deveriam saber escrever para redigir idéias e apresentar novos projetos; deveriam saber pensar e entender os vários aspectos de um problema a fim de buscar as melhores soluções; deveriam saber administrar. Claro que diplomas não comprovam esse tipo de aptidão. Não basta tampouco ter assessores competentes e graduados para cuidar das formulações intelectuais e do operacional. É preciso visão e preparo para assumir certas responsabilidades, para participar de discussões e de estudos sobre o destino do país.

A educação tem que ser vista como instrumento de crescimento. Crianças cujo sonho é se tornar políticos passariam a se dedicar mais ao estudo para atingir esse objetivo.

O que se pretende com a busca da escolaridade mínima é fazer com que os homens públicos se preparem melhor, é evitar a improvisação. Infelizmente muitos se elegem pensando nos salários, benefícios e imunidade muito mais do que em desenvolver um trabalho voltado à sociedade. Mas a escolaridade nada tem a ver com esse fato, visto que alguns desses “profissionais do voto” têm diplomas...enfim...

Se a emenda passasse, ainda faltaria exigir formação específica e continuada dos políticos. Cursos preparatórios para os candidatos e de reciclagem para os eleitos, a serem ministrados em escolas de administração pública como a ENAP, por exemplo. No currículo, seriam oferecidos módulos de formação administrativa, ética, moral, cívica, jurídica, econômica e tantos outros temas necessários a quem se dedica ao coletivo, ao público, à Nação.

Ah... mas não seria apenas isso... faltaria ainda exigir assiduidade... bons resultados... menos recessos, mais votações. E para assegurar que todo o conhecimento fosse bem utilizado e rendesse mais e melhores frutos, quem sabe um dia “as casas” trabalhassem quarenta horas semanais, com férias de trinta dias por ano? Sem recessos nem sessões – e pagamentos – extras...

Educação para todos e principalmente para os políticos ! se não exigirmos o exemplo vindo de cima, como continuaremos administrando uma sociedade sem exemplos?

Impotência - pelo "planejamento familiar"

Hoje gostaria de contar a história de Maria: brasileira, pobre, trabalha em Brasília e vive numa cidade de Goiás. Tem 42 anos e acaba de dar à luz ao seu sexto filho. Trabalhando como diarista – opção que lhe rende um salário melhor mas que não lhe dá nenhuma segurança, Maria um dia me pediu ajuda para ligar as trompas! Contou-me que é complicado, que não se deu bem com a pílula e a burocracia é tanta que, mesmo que o parto fosse cesariana, não ligariam pois ela teria primeiro que entrar numa fila e que isso levava tempo...

O que eu poderia fazer para ajudá-la, meu deus?! Isso é ainda por cima ilegal!! Fiquei angustiada desde então. Soube que dois de seus filhos têm dificuldades de aprendizado. Pela idade, pela quantidade de filhos e pelas circunstâncias, imagino que ela teria prioridade na tal fila...enfim...

Na noite que foi para o hospital, o pai da criança – que não é o mesmo dos outros filhos – me ligou informando onde ela tinha sido internada. Comecei a telefonar para o tal hospital na esperança de sensibilizar as pessoas para o problema mas o telefone estava ocupado e continuou ocupado por horas. Desisti. Nem resolveria tentar. Nem poderia estar tentando!!

Que sistema é este que não ajuda pessoas nessas circunstâncias? Por que não prescrevem a ligadura no pré-natal e resolvem de vez o problema? Idade, quantidade de filhos, crianças com problemas e baixa renda familiar já são argumentos irrefutáveis! Que a interessada assine um termo se responsabilizando pela decisão perante a lei. Até quando outros decidirão pelo indivíduo interessado?

Continuo não acreditando num país que não faz uma política de controle de natalidade ostensiva – termo que, por lei, é proibido! Que se faça, então, o tal “planejamento familiar”. Ninguém fala sobre o assunto, por que??? Famílias passando fome com 6, 8, 10 filhos! O “Fome Zero” pouco ajudará enquanto ninguém pensar em diminuir a taxa de natalidade entre os que não têm condições. Criminalidade, drogas, problemas sociais que crescem em proporção geométrica... Por que, meu deus, não ajudam as pessoas a terem menos filhos?? Distribuir camisinhas infelizmente não basta – homens recusam-se a usá-la. Imagino que a gravidez seja o problema menor, com a proliferação da Aids e de doenças sexualmente transmissíveis...

Fico mais abismada é com a atitude retrógrada da igreja (neste momento de revolta, não acho que a instituição mereça ter seu nome escrito em maíuscula), cujos representantes pregam contra a camisinha, contra os métodos contraceptivos. A miséria e as doenças às quais estão expostas as populações sem recurso e sem informação não os atingem. Que podem saber de sexo, de filhos, de família, de miséria os que vivem enclausurados e não têm experiência no assunto?! Francamente, não aceito a atitude desumana das pessoas que não fazem nada para conter o avanço das DSTs e o aumento da miséria e de suas conseqüências sociais. Não posso crer naqueles que não evoluem, que não aceitam avanços da ciência, que não acompanham as mudanças na sociedade, que não entendem que a fome, a pobreza e as desgraças podem ser minimizadas com inteligência e racionalidade.

Não adianta ensinar Maria a usar camisinha se o pai desta criança – ou das próximas –não aceitar usar. Não adianta dar conselhos, rezar. Comprei algumas roupinhas para o bebê e lamentei a minha impotência – e a do sistema – em ajudar.

Estresse

Estou de licença médica com labirintite e nem deveria estar escrevendo, portanto tentarei ser breve! Dizem que a labirintite pode ser desencadeada por estresse. Este é sem dúvida o mal do século. Quem tem estresse, pode desenvolver depressão, angústia, pode engordar ou emagrecer, perder cabelo, roer as unhas, ter insônia, problemas cardíacos, dor nas costas, dor de cabeça... a lista de estragos pode ser interminável! E, o pior, os estressadinhos ficam não raras vezes sem paciência, ansiosos, em suma, insuportáveis.

Você já se pegou com pressa, até mesmo de férias ou num fim-de-semana? Já ficou irritado com um carro empacando em sua frente e quis ultrapassar – até mesmo pela direita? Cuidado, isso pode ser estresse...

Tenho observado que as pessoas estão ficando cada vez mais impacientes, intolerantes. Nos mais novos, isso é sinônimo de imaturidade, nos mais idosos, de senilidade. Mas na idade adulta, não há desculpa. Falta de educação, de respeito ao outro, de auto-controle. Gente assim também me estressa...

Mas há os seres provocadores de estresse. Convenhamos que é aceitável ser estressado quando se tem que enfrentar coisas assim... para ilustrar, vou contar sobre a minha quadra. Além do barulho de vizinhos hiperativos e de cães mal-educados e histéricos, enfrento os poréns de se viver numa “quadra modelo”, fantástica para quem a projetou e para quem não mora aqui e apenas faz uso dela. Na quadra há uma escola-classe e uma escola-parque, idealizadas para atender crianças que moram nas redondezas mas, com a decadência do ensino público, hoje atendem apenas crianças cujas famílias não podem pagar escola particular e que vêm de outros bairros. Na quadra há também o teatro da escola-parque e o centro cultural que oferece espaço para exposições e shows, genial para jovens na fase “tenho casa, mas prefiro ficar na rua”.

O estresse não é apenas pelo barulho das buzinas frenéticas e enlouquecidas dos pais e Vans que vêm buscar os moleques na escola. É também da saída do teatro, depois das dez da noite, quando as pessoas vêm buscar seus carros e esquecem que pessoas moram – e dormem – naquele prédio. O estresse provém igualmente do rebuliço da galera jovem que entra e sai do espaço cultural, se instala nos bancos e gramados na frente e atrás dos prédios, bebe, come, canta, grita, ri, chora, passa mal e só vai embora muito tarde da noite, isso quando não sai em disparada à chegada do baculejo da polícia. Legal, pessoal, juventude passa, é preciso se divertir mas não esquecer que pessoas moram ali e têm o direito de querer descansar quando estão em suas casas. Divirtam-se mas respeitem as pessoas – e que esse respeito seja mútuo – e respeitem o local, não deixando os gramados imundos de latas, garrafas, vidro quebrado, papéis, papelão, papelotes, camisinhas... É um espaço de todos, para ser utilizado e não inutilizado.

Esse estresse é passageiro... e o que dizer de estresses permanentes? Quem não se estressaria com vizinhos com problemas auditivos (ou mental) que vêem televisão ou acompanham partidas de futebol aos berros? Ou que batem pregos à meia-noite? Ou que andam dia e noite de sapato de salto?... E como não se irritar com um cachorro que uiva e late até o dono se esgoelar para mandá-lo calar a boca? Esse mesmo cão late para todos que passam na rua e, mais ainda, quando vê outros cachorros... ah cachorrinho que tenho vontade de esganar quando quero dormir um pouco mais pela manhã!!

Nem preciso buscar motivos para me estressar, eles surgem naturalmente... o chato é saber que as pessoas estão tão envolvidas em seus afazeres que nem percebem que incomodam os outros. Será que se importam?

Gostaria que a Lei do Silêncio, que só existe na teoria, como convenção social, fosse ensinada nas escolas e que o respeito ao outro também fizesse parte dos currículos. Para quem não vai mais à escola, poderíamos quem sabe distribuir uma cartilha de bons modos... Não seria fantástico ter a paz estabelecida de dez da noite às dez da manhã?!

Eu mesma me flagro estressando à toa. Perdão, leitor, se trouxe ao blog este “recito de uma estressada”! Vejo, observando ao meu redor, que a saída talvez seja ficar indiferente, não ligar para nada nem ninguém. Assim, parece que se sofre menos. Como já dizia um dos personagens do espirituoso Fernando Sabino: “não analisa, não!”

Volto ao meu repouso que poderia ser bem mais prazeroso e efetivo se morasse numa casa sem vizinhos grudados e arredores tão turbulentos... Viver em sociedade é um exercício – numa sociedade sem regras, sem educação, um exercício de paciência!

Brasília, 2005
2008: a falta de educação generalizada lamentavelmente continua...

Sangue de Jesus tem Poder

O fato: às terças-feiras e domingos, de 19h30 às 22 horas, um grupo de evangélicos fervorosos reúne-se numa sala de aula de uma escola pública situada numa região residencial.

A polêmica: venho a vós para clamar pelo direito à paz e a não acompanhar nenhum credo enquanto estiver dentro de minha casa.

Respeito a crendice e a credulidade dos indivíduos mas não considero apropriado fazer tal uso de um espaço escolar, a duzentos metros de um prédio residencial, sem qualquer isolamento acústico, ainda mais quando a oratória atinge altos índices de decibéis. Para o agravamento da situação, o cantor entusiasmado utiliza um microfone numa pequena sala...

Pela liberdade de credo, evidentemente não nos cabe questionar a repetição, a incoerência de certas expressões empregadas, o tom agressivo e gritante da fala, as constantes referências ao mal e ao satanás, os apelos pelo dízimo para construir a nova igreja – lamento mas ouço cada palavra sem querer e sem fazer qualquer esforço, mesmo com as janelas fechadas.

Faço sinceros votos para que consigam rapidamente atingir o objetivo e partam para um local mais adequado. Ou que a direção da escola entenda como errada a concessão do espaço para esse tipo de atividade. O ensino público é por princípio laico e a utilização do espaço escolar para outras atividades, em horários após o expediente, deveria ser condicionada a uma consulta prévia aos moradores locais.

Pela paz, pelo sono, pelo descanso, oro e apelo ao uso do bom senso.

Brasília, 2006.

2008: 2 anos depois, os evangélicos deram um tempo. Convém sempre lembrar que o Estado é laico e escolas públicas - principalmente se localizadas em área residencial - não são igreja.

Diga Não à Impunidade

Recebi a mensagem de uma amiga e visitei o site. Por julgar a causa nobre e extremamente importante, convoco-os a apoiar. Basta entrar no endereço e participar do abaixo-assinado: http://www.gabrielasoudapaz.org/

É com ações assim que a comunidade pode se organizar e exigir mudanças em leis caducas e ineficientes. Pelo bem de todos, divulguem!

Transcrevo a seguir o Projeto de Lei:

Cleyde Prado Maia e Carlos Santiago, pais da adolescente Gabriela, morta no metrô da Tijuca, as vítimas e os familiares de vítimas da violência do Rio de Janeiro e outros estados, convocam a sociedade civil a subscrever este abaixo-assinado, que tem por objetivo recolher um milhão e duzentas mil assinaturas para respaldar o encaminhamento ao Congresso Nacional de emenda popular modificando a legislação penal em vigor.

Nossas leis, como todos sabem, têm promovido a IMPUNIDADE, que gera descrédito na instituição da justiça e estimula a violência que ameaça a todos nós.

A proposta não é aumentar as penas, mas garantir que elas sejam cumpridas com rigor, não mais permitindo que a benevolência das leis continue a pulverizar as sentenças dadas pelos juízes e a alimentar a mentalidade de que o crime compensa, porque a legislação, através de suas brechas, sempre oferece um jeito de não se pagar por ele.

A Constituição garante ao povo o direito de encaminhar e fazer valer seus projetos de mudanças. Participe! Não espere a desgraça acontecer a você ou a sua família.

E o que queremos mudar?

Acabar com a aplicação do conceito de "crime continuado" aos casos de homicídio. Pela legislação atual, matar várias pessoas ao mesmo tempo equivale a matar uma só. Exemplo prático: na chacina de Vigário Geral foram assassinadas 21 pessoas, mas a lei unifica essas 21 mortes e considera que os assassinos praticaram um único crime: 21 vidas passam a valer uma só.

Acabar com o protesto por novo júri. Embora o código Penal diga que a pena máxima é de 30 anos, na prática ela é muito menor: por mais bárbaro que seja o crime cometido, os juízes não costumam condenar ninguém à mais de 19 anos e alguns meses. Pela legislação atual, se condenado à mais de 20 anos, o réu tem direito imediato à um segundo julgamento, que ainda pode ser postergado por muitos e muitos anos.

Fazer com que a aplicação de benefícios seja baseada no tempo total da condenação. Pela legislação atual, mesmo que a soma dos delitos praticados tenha resultado numa pena de 40, 50 anos, os criminosos cumprem, em média, cinco a seis anos no máximo, porque os benefícios são concedidos tomando como base os 30 anos que a lei estabelece como pena máxima, e não o total da pena a que foram condenados.

Estipular que o trabalho seja condição para a concessão de benefícios. Para que o preso tenha direito a benefícios, como livramento condicional e os regimes semi-aberto e aberto, deverá trabalhar. Caso não queira, cumprirá sua pena integralmente. A proposta de estabelecer o trabalho como condição para a concessão de benefícios traz, na prática, grandes vantagens para o preso, porque só o trabalho pode contribuir para sua re-socialização e para uma maior humanização da vida na cadeia. A medida obrigaria o estado a incluir, nos presídios novos que estão sendo construídos, condições para que esse item possa ser cumprido.

Impedir o condenado pela prática de crime hediondo de recorrer em liberdade. Quem já foi condenado a mais de quatro anos de prisão, por qualquer crime, e venha a cometer um crime hediondo, deve cumprir a nova pena em regime integralmente fechado. E aquele que for condenado por crime hediondo, pelo Tribunal do Júri, deve ser imediatamente preso, não podendo recorrer da sentença em liberdade.

Não conceder o benefício de indulto ao condenado por crime de tortura.

Profissão Sem Teto

Em Brasília, grupos de prédios residenciais são chamados de Quadras. Entre essas, a Super Quadra Sul 308 é considerada quadra-modelo de urbanismo da cidade, abrigando três escolas, uma igreja e um centro cultural. Tombada pelo patrimônio, virou atração turística e recebe regulares visitas de viajantes brasileiros e estrangeiros.

Recentemente a quadra vem sendo habitada por um tipo nada honroso de moradores: andarilhos aparentemente sem-teto que dormem, bebem, comem, fazem sexo, mijam e até defecam a céu aberto. Insalubre, ultrajante. Engana-se ,entretanto, quem pensa que não têm casa. Uma das mulheres do grupo falava outro dia ao telefone público: “fulana, traz roupa para as crianças!"

Moradores abismados e assustados com o que vêem e ouvem fazem apelo à polícia, que parece não possuir mecanismos de ação nem autonomia nesses casos. O que registrar como ocorrência afinal de contas?

Zeladores e moradores dos blocos vizinhos aos gramados e calçadas tomados pelo grupo são obrigados a conviver diariamente com o barulho, a sujeira e o clima de insegurança provocados pelos pedintes que, sob o efeito do álcool, ameaçam e mexem com quem passa.

Os clientes e as sobras dos supermercados e dos restaurantes da vizinhança seriam os alvos do bando. Nada mais explicaria a presença dessas pessoas – homens e mulheres com crianças, cachorros e cavalos, aboletados dia e noite e afugentados apenas temporariamente pela chuva e por seguidos “baculejos” policiais.

Nada, porém, parece amedrontá-los ou convencê-los de sair dali. Pessoas bem vestidas são vistas freqüentemente entre eles, em estranhas e demoradas conversas. Seria esse um movimento organizado para a promoção da baderna e de conflitos sociais? Estaria algum político oportunista apenas esperando uma próxima época eleitoreira ou uma jogada de marketing para apresentar uma solução efetiva? Engenhoso se fosse o caso...

Os supostos Sem-Teto fumam, bebem, comem, divertem-se, zombam de tudo e de todos à volta. Não parecem passar fome nem estar em busca de estudo, moradia ou emprego. Parecem profissionais... mas que nova indústria seria esta? Quem estaria por trás deste grotesco teatro? Ao passar de carro, vê-se que grupos semelhantes espalham-se pela cidade.

Pago IPVA, Seguro Obrigatório e alinhamento de meu carro e fico enfurecida, ano após ano, ao ver os buracos e o asfalto cheio de remendos nas pistas da capital federal. A revolta é a mesma ao ver que o IPTU e todos os outros altos impostos pagos não são utilizados para garantir a segurança e o respeito aos moradores – leia-se trabalhadores, contribuintes e eleitores - de Brasília.

É uma quadra-modelo de vergonha. Não gostaríamos que os turistas fotografassem e exportassem para o mundo imagens que nada mais são do que o registro concreto do descaso das autoridades locais. Do jeito que a coisa está, em breve o “ofício” de mendigo e igualmente o de 'guardador de carro' entrarão no Guia das profissões...

Brasília, 2006 e ainda atual...

Dependência

Outro dia, numa festa na casa de um amigo, vi um homem de meia idade que me chamou a atenção. Sua alegria era contagiante. Cheio de amigos à sua volta, bem sucedido na profissão, conhecido em seu meio, aparentemente admirado por todos. Pensei: “que pessoa legal”.

Soube, tempos depois, que aquela alegria não refletia a realidade. Contaram-me que bebe demais, perde a memória, arrisca-se, dá vexame na noite. Fiquei triste por ele. Alguém com tudo para ser feliz simplesmente se coloca a perder, foge de si mesmo, se entrega.

Não consigo entender... ou será que consigo? Será que a dependência é a mesma que às vezes admito ter por doce? Não pode ser... não me lembro de ter perdido a memória matando “aquela” lata de leite condensado... fico apenas com um grande peso... na consciência, é claro.

Carência por carência, todos somos um pouco carentes. As fugas é que variam. Escrever pode ser uma delas, assim como dançar, tocar um instrumento, pintar. No entanto, quando a fuga implica em perda de consciência, em prejuízo da saúde, será que é válida? Tem coisa mais preciosa na vida do que a consciência? Sem ela, não realizamos nem curtimos os prazeres da vida!

Fugir, perder-se, diminuir-se, matar-se, isso lá é viver?! Não se depende de droga ou álcool, mas unicamente de si mesmo.

A roupa nova do presidente

O presidente da Câmara dos Deputados de um país remoto e desconhecido de nós apresenta o relatório de um perito para atestar que um documento usado para denunciá-lo como protagonista de um escândalo de propina é falso. No frigir dos ovos, descobre-se que falso é o tal laudo...

Convicto de que o povo o perdoará, este senhor parece não ter noção da gravidade de seu ato. Especulemos: durante quarenta anos de vida pública, dos quais se gaba sem pudor, provavelmente acostumou-se a esse tipo de manobra, passando a achar tudo muito natural.

O povo não perdoa. Ignora, finge que esquece. Aliás, o bombardeio de notícias repetitivas é proposital e leva-nos a tamanho estado de torpor que chega um momento em que ninguém mais quer ouvir falar do assunto. O brasileiro tem memória sim, senhor, mas tem saco pequeno e prefere deixar cair no pseudo esquecimento.

A impunidade, desculpe, quero dizer a imunidade parlamentar continua protegendo os congressistas envolvidos em negócios escusos. Talvez isso explique a perpetuação de empresários em cargos públicos... a carreira política acaba revelando-se uma interessante maneira de se fugir de processos e de enriquecer.

Quando acoados, na iminência de terem seus mandatos cassados e tornarem-se inelegíveis, eis que decidem renunciar, aguardando a melhor hora de voltarem ao poder. Que nada! Permanecem representados pelos suplentes, geralmente pessoas desconhecidas e sem expressão. Seriam laranjas? Não me espanta, mas assusta e entristece ver o profissionalismo, o grau de sofisticação da coisa.

O mais incrível é assistir pessoas legislando em causa própria, tendo o poder de votar leis que regem inclusive os próprios salários. Isso é surreal para mim. Não pode ser sério...

Quando nos candidatamos a um cargo público, nos são exigidos atestados de boa conduta, certidões de nada consta, testes de conhecimentos gerais e específicos. Ao assumir, devemos cumprir um número “X” de horas semanais, bater ponto, apresentar rendimento no desempenho da função. É certo que não temos a metade da responsabilidade dos homens públicos, eleitos pela população e com a obrigação de fazer jus à confiança neles depositada (se fazem, isso é outra história...). Entretanto, percebemos que as regras são frouxas e que o despreparo e a falta de objetividade dos legisladores faz com que o rendimento dos trabalhos fique a desejar.

Não dando conta do recado durante as sessões ordinárias, convocam sessões extraordinárias para ganhar extraordinários extras e engordar os extraordiários rendimentos... e assim vão-se arrastando as votações, à espera de quorum ou de negociatas e escambos entre os partidos. E engana-se quem acredita que é a relevância dos temas o que dita o andamento dos trabalhos... ligue a rádio Câmara e ouça o deputado fulustreco fazendo uma extensa e cheia de adjetivos homenagem ao Doutor Comendador José da Silva, cidadão benemérito do Município de Sabe-se lá Onde, pela sua importância à Nação (????). As sessões de coluna social deveriam ser feitas em caráter extraordinário e gratuito! Eu, você e cada contribuinte pagamos por isso...

O presidente que cobra propina, o político profissional com processos nas costas e que faz parte de máfias internas e externas, o orador de coluna social são exemplos de maus políticos que não sabem discernir entre público e privado, entre prioridades e bobagens, entre certo e errado. Evidentemente existem bons políticos que, esperamos, não desistam de continuar trabalhando para compensar o deserviço prestado por aqueles.

Sonhemos, pois, com uma legislação mais coerente, com leis eleitorais mais duras, com algum critério e com uma formação e uma preparação melhor de nossos políticos.

O presidente, assim como o Rei da fábula, anda nu. Pensa que está vestido, elegante por trás do terno e da gravata, comandando como bem quer os inertes súditos, bem pagos para calar e concordar com ele. O poder o faz cego, sem perceber que, aos olhos dos críticos, está nu, nuzinho. Só não vê quem não quer.

Brasília, 2006

Ratos

Onde moro tem uns bichos que viram as latas de comida, esvaziam todas as lixeiras, mijam e defecam na rua. De vez em quando, vemos um ou outro fazendo sexo. Quando bate a ventania, sobe o cheiro de podre, de sujo... mas algumas particularidades os distinguem de simples roedores: são muito maiores, andam sobre duas patas, falam, gritam, cantam, bebem álcool, fumam, se drogam, vendem droga, xingam, brigam, matam.

Matam sim... outro dia, viram dois deles passarem com grandes pedras na mão, dizendo “vamos lá acabar com ele”. No dia seguinte, há algumas quadras daqui, um sujeito foi encontrado morto. Mas crimes assim não alteram os números: as fêmeas sempre estão cercadas de crias e novamente prenhes...

Anteontem, eu passava por trás da comercial para entrar numa loja cuja porta fica virada para os fundos quando, a duzentos metros dali, cinco moleques entre os doze e os quinze anos e um rapaz bem mais velho se amontoavam fechando um círculo. No meio deles, uma garrafa. Um dos lojistas da rua, com quem comentei o que vi, me explicou que aquilo na garrafa é solvente. Que não se usa mais cheirar cola de sapateiro pois é muito caro. Ao que dizem, o solvente dá um barato ainda mais forte mas, em contrapartida, faz um estrago danado no cérebro...

Há tempos, minha quadra era conhecida como quadra-modelo da cidade pelo planejamento urbanístico e pelo projeto paisagístico. Ainda vemos turistas procurando o que já foi tido por belo. De repente até ainda é belo aos olhos dos que não convivem com esse quadro de horror... mas para nós, moradores, infelizmente não tem mais graça passear e admirar certos ângulos enquanto a sensação é de medo de se deparar com alguém bêbado ou drogado à procura de dinheiro fácil. Não tem graça nenhuma pagar impostos e não os ver investidos onde moramos; não ver limpeza, não ver ordem, não ver progresso, não ver respeito.

Acabamos com medo e nojo pelo cheiro dos canteiros, dos gramados e das calçadas. E raiva pela bagunça, pelo barulho, pela sujeira e pelo descaso. Pergunto-me onde andarão os homens públicos e suas pseudo políticas sociais... onde andará o Senhor distribuidor de lotes... Por que não surge um Senhor distribuidor de empregos? de postos de saúde? de escolas? de educação? de noções básicas de higiene? de moral? de caráter? de cidadania? de responsabilidade? de vergonha na cara?

Enfim, serão homens? ou ratos...?

Brasília, 2006.

Bossa Triste

Bossa 1

Tenho pena da galera de hoje, que só conhece músicas como a Festa no Apê, estilos como o funk, o rap, o hip-hop, o dance e outros estilos que nem sei o nome. Esse pessoal talvez não tenha tido a oportunidade de conhecer a Bossa Nova. Provavelmente não conheceu a harmonia, a melodia, a poesia, a contemplação. Não se apaixonou platonicamente e nem viveu amores inocentes e leves, tão bem traduzidos pelas canções daquele tempo.

Entendo o tipo de gente que diz que o João Gilberto, por exemplo, é um chato. Quem diz isso não consegue ter a leitura dele que as pessoas da época tiveram. Não entende a genialidade que o seu jeito de tocar violão trouxe à sua geração, não se deixou apaixonar pela doçura de sua voz baixinha, macia, por sua excêntrica mania de ser perfeccionista no que faz.

A Bossa Nova não proporciona as grandes emoções e os suores dos trios elétricos e dos bate-estacas dos anos 2000 mas, em compensação, permite o pulsar dos sentimentos mais íntimos, fazendo bater o coração não pelo estouro da caixa de som mas pelo arrepio, pela identificação com a letra, pela cadência envolvente da batida e pela sedutora musicalidade dos acordes elaborados.

Ao sair da sala de cinema com minha mãe, após ver o documentário Coisa Mais Linda, sobre a história da Bossa Nova, revivi em flashes momentos de minha infância ouvindo o som que mamãe ouvia. Percebi, durante o filme, que ela se emocionou relembrando sua juventude, suas paixões, o Rio de Janeiro, o início de Brasília, a música e o fascínio despertado por Tom, Vinicius, Dick Farney, Carlos Lyra e tantos outros. Eu também me emocionei - sem tanta propriedade, é claro, lamentando não ter vivido isso em idade adulta e lastimando a falta de essência, de sonho e de poesia da juventude rave.

Sou de uma geração entre esses dois mundos, tendo ainda recebido a influência romântica dos que vieram antes de mim e agora assistindo, pasma, à mistura de tudo e à falta de algo que fique do que é produzido pelos que vieram depois de mim. Como diz a música Velhos e Jovens, de Péricles Cavalcanti e Arnaldo Antunes, “estamos todos aqui”...

Hoje temos sons divertidos, intrigantes, dançantes que ficam nos ouvidos por insistência da mídia, do lobby das rádios que tocam repetidamente e, assim, fazem vender a ‘música’ mesmo que não tenha letra alguma – ou apenas um refrão com alguma mensagem ininteligível – e que possa ser tocada com dois ou três acordes simples. Se o objetivo é fazer mexer, dançar, cantar, de repente o exercício é válido. Para quê, afinal de contas, esperar alguma mensagem ou intelectualidade das músicas? A genialidade não pode ser para todos. Perderia a graça.

Bossa 2

Hoje foi um dia forte. Antes da Bossa cinematográfica, em casa, soube que minha faxineira estava a um passo de cometer uma loucura. Havia saído de casa decidida a abandonar o marido, os filhos, a casa. Deixara as malas prontas.

Veio trabalhar normalmente sem saber o que faria depois disso. Trouxera consigo a sexta filha, de colo. Sim, ela tem seis filhos e não sabe o que fazer com eles. Filha de mãe solteira, ela mesma não teve uma família e agora se vê incapaz de seguir adiante, confrontada com problemas e dramas do cotidiano e da convivência com suas “crianças”.

O filho mais velho, de quinze anos, parece ter problemas de aprendizado e uma doença que enfraquece os ossos e favorece fraturas. De muletas, auxilia em casa e, não se sabe como, toma conta dos irmãos e das irmãs mais novas quando a mãe sai para trabalhar.

Os filhos do meio são rebeldes. Um acaba de ir morar com o pai, revoltado com a mãe ou enciúmado pela presença de um novo padrasto, não se sabe bem. O outro foi recentemente flagrado num pequeno furto e apanhou em casa por causa disso. Revolta-se talvez por esperar inconscientemente que, cometendo pequenos delitos, receba atenção, educação e não repreensão física. Dizem que toda criança precisa de limites...

A filha mais velha mal saiu da adolescência e já teve um bebê. Vez por outra, volta para casa com a criança debaixo do braço e se escora na mãe. Não contribui e nem ajuda em nada, não lava um garfo, uma roupa sequer. Vê televisão o dia inteiro. Desperdiça água. Come e bebe às custas da mãe e do padrasto.

No meio disso tudo, eis que surge a figura do marido-padrasto. Um ex-amigo da filha mais velha. Pela descrição, parece um sujeito correto, participativo, respeitoso e atencioso para com a esposa, bem mais velha do que ele. É pai do bebê, o último – por ora – dos seis filhos. Trabalha e ajuda a pagar as despesas, a comida para todos eles.

Num arranca-rabo no dia anterior, o ex-marido, pai do quarto e da quinta dos seis filhos, disse-lhe uma série de desaforos. Um homem que, mesmo intimado pela justiça e não cumprindo a determinação de pagar pensão às crianças, de repente se vê com autoridade para pregar um sermão na ex-mulher por supostas omissões do dia a dia...

Olhando toda a novela de fora, eu chutaria que todo o conflito pode ter sua origem no simples fato de existir uma relação de amor entre a mãe de família e o jovem marido. Nem os filhos, nem os ex-maridos talvez tenham capacidade de compreender que possa existir amor ali. E nem ela própria talvez esteja preparada para viver uma situação inusitada de amor e nem tenha a capacidade para se impor diante de toda a pressão. De se impor ensinando e exigindo respeito dos filhos. De se impor como mulher. De fazer respeitar seu direito de ser feliz.

Aliás que direito? Consciente da dureza que é a sua vida, ela teme uma nova gravidez. E eu também temo por ela. Temo e lastimo a omissão do Estado e a perversidade da Igreja condenando até mesmo a expressão “controle de natalidade”. Falei sobre isso numa crônica há algum tempo e insisto em bater na mesma tecla – e em outras teclas adjacentes. Quem sabe um dia não consigo compor acordes que se façam ouvir pelas autoridades, que sensibilizem e conscientizem a sociedade para a necessidade de mudanças nas leis e práticas existentes!

Minha faxineira tem mais de 40 anos, tem seis filhos entre os quais um com problema neurológico e outro com problemas comportamentais. Não tem boa estrutura emocional nem instrução ou preparo para educá-los a contento e nem condições ideais para sustentá-los e, ainda assim, procura fazê-lo com braveza e dignidade – isso quando não pensa em desistir de tudo...

Ela tem o direito de ser feliz sim!

Tem o direito de ligar suas trompas, se assim o desejar. Tem o direito a educação para suas crianças e para ela mesma, pois não pôde continuar seus estudos como um dia sonhou. A amar e a ser amada – e não rechaçada por isso. Tem o direito a saúde, a cultura de qualidade. A se apaixonar e a um dia, por que não, conhecer a Bossa Nova e outras formas de arte às quais ela não teve ou tem acesso.

A existência humana pressupõe condições dignas de vida. Não permitir tais condições nem proporcionar oportunidades equânimes a todos é incorrer em crime contra a própria existência.

Bossa 3

A Bossa Nova me faz sonhar com um mundo de paz, de sentimentos bonitos, puros e transparentes, que parece ficar cada dia mais para trás. Por sorte tenho o privilégio de voltar no tempo, ouvir CDs, ver documentários, tocar violão e cantar com amigos as músicas que eu quiser ouvir.

Mas lamentavelmente não posso deixar de ouvir o choro e de ver a tristeza no olhar da minha faxineira, totalmente entregue pela falta de sonho, de esperança, de bossa.

Sem Parágrafos, sem coesão, com alguma razão - haverá solução?

27 de janeiro de 2006 – ano de eleições

Tentei fazer poesia mas hoje meu humor está como o mar quando não está para peixe: turvo, agitado, com ressaca, feio. Feio como o céu quando fecha de repente, formando nuvens pretas e pesadas e desabando “naquele” pé d’água. E a água já caiu – hoje e ontem – ao assistir histórias que me tocaram na televisão. Uma das histórias era real, de uma família que passou uma semana na África, descobrindo a cultura do povo e se misturando a ele, tentando aprender algo sobre o terceiro mundo. O que me emocionou foi ver um garotinho americano, mimado, reclamão, rebelde, se apegar a um adulto da tribo visitada e descobrir sozinho o que ele descreve, a um dado momento, deitado, acolhido no colo do novo e enorme amigo, como sendo as únicas três coisas realmente essenciais na vida: água, comida e abrigo. O menininho partiu aos prantos ao ter de se separar do amigo que lhe dava atenção, carinho, lhe falava e o ouvia. No começo da viagem, quando o menino estava indócil com a nova e dura realidade à sua volta, com o sol torrencial, a falta de água, com a comida escassa, as condições precárias do local, ele xingava e agredia a todos, ao que os pais diziam: “damos tudo a nossos filhos achando que estamos fazendo o bem, quando, na verdade, o que estamos fazendo é criar pequenos monstros.” Aos poucos, o menino foi se acalmando, amolecendo e pareceu ser o que mais assimilou a sensibilidade e a simplicidade das pessoas em volta, talvez por ter menos idéias pré-concebidas e ter tido menos tempo para incorporar paradigmas da sociedade de origem. Os outros adaptaram-se mais rapidamente às condições adversas do local mas o sentimento de amizade descoberto pelo guri pareceu muito mais forte, intenso. Intenso também foi meu sofrimento, assistindo a um filme hoje à tarde. Logicamente encontrei o filme pela metade, como todos os filmes que achamos em meio a tantos canais sem sal da tv a cabo. A história – que deveria ser grafada como ‘estória’ pela ficção da trama – falava de reencarnação, de acasos – que muitos dizem não existir – de pessoas reencontrando o amor em si mesmas, redescobrindo o amor no outro, repensando os encontros e desencontros vividos ao longo da existência. E tudo isso me remete à idéia de tempo, à agonia que dá em pensar que não aproveitamos os momentos como deveríamos, não dizemos tudo o que sentimos nem nos permitimos viver e sentir tudo o que poderíamos. Minha preguiça física – que dizima qualquer possibilidade de reagir psicologicamente, condena-me a uma inércia sem precedentes em minha história que já contabiliza, afinal de contas, mais de um terço de século! Tudo isso para dizer que estou de mau-humor – ou será que estou triste? Estou tão de mau humor (com ou sem hifen? – e hifen com ou sem acento?) que divago num formato impossível de texto, sem pausa, sem parágrafo, “pirante”! A propósito, Saramago com sua genialidade que me perdoe mas não consigo me concentrar em seu estilo rebuscado e complexo de escrever... e eis que uso pela primeira vez nesta página os três pontinhos... segunda vez agora... - e terceira -, para expressar não hesitação ou incerteza mas para admitir que gosto mesmo de usá-los. Esta semana me disseram que uso-os demais... é como se, usando-os, eu estivesse parando o que digo para meditar e dando, assim, ao leitor, a possibilidade de pensar também ou de tentar captar minha maneira irônica, sarcástica, por vezes inconformada, chateada com as coisas deste nosso lindo mas corrupto mundo... confesso que não sou ninguém sem os danados dos três pontinhos... e hoje eu me sinto ninguém. E o ponto após a afirmação é para não gerar dúvida alguma e não dar o que pensar. E falando em pensar, sempre que paro para pensar na podridão do poder, da ganância por mais e mais dinheiro e influência, nos sentimentos nefastos que movem pessoas que administram mal as verbas públicas e legislam em causa própria – causa de quem? enfim, sempre que paro para pensar na causa de nossos males fico triste e de mau humor. Sem hifen, sem acento e sem fé. Mas isso há de mudar! Vamos eleger uma mulher para presidente para ver se a sensibilidade muda alguma coisa!! Será que tenho coragem de me candidatar??

Os Centenas De Pilantras E Os Cento E setenta Milhões De Tolinhos

Somos ou não somos tolinhos vendo foras-da-lei se elegerem, se reelegerem e se perpetuarem no poder? E ainda sendo obrigados a votar neles!

Não voto em partido mas em pessoas. Gosto de olhar no olho e ter a esperança de que o candidato que escolho é mais gente do que os outros. Qualquer ideologia perde a força ante as manobras que diariamente driblam a ética e deturpam as leis.

Gostaria de votar em pessoas sem imunidade, que votassem sempre em voto aberto, que tivessem seu sigilo bancário e telefônico permanentemente aberto (resguardado mas constantemente fiscalizado), que declarassem bens e patrimônio – seus e de seus familiares – antes e depois de cada mandato.

Adoraria poder votar em pessoas que não tivessem a política como única profissão, como maneira de enriquecer e de legislar em benefício próprio. E que tivessem educação, formação mínima (leia-se instrução + sólida formação de caráter) para compreender a seriedade necessária para se legislar pelo povo e para o povo e para perceber a gravidade de se legislar em causa própria ou de se vender a lobistas.

Seria mais feliz vendo a maioria dos brasileiros letrados, esclarecidos, sem fome, com escola, hospital, remédios, emprego. E vendo ladrões de todos os calibres atrás das grades, trabalhando para pagar o quê e àqueles que roubaram e para financiar prisões com condições humanas e produtivas.

Mas sou apenas mais uma entre os quase cento e setenta milhões de tolinhos (extraindo-se da conta os espertinhos aos quais me referia anteriormente) a insistir a acreditar que nosso bonito país - habitado por gente tão simpática, alegre, criativa e talentosa – tem solução! Lamentavelmente nosso querido Brasil continuará ladeira abaixo, desgovernado, enquanto a corrupção e a bandidagem compensarem e enquanto nós, tolinhos, carneirinhos, permanecermos inertes.

Fica o desafio de tentar enxergar, olho no olho, a essência, a índole, o caráter dos 'sujeitos'. Ainda que o ditado afirme que quem vê cara não vê coração, acredito que lá no fundo sabemos quem é quem. Falta é a coragem de romper a cadeia predatória, de enxergar mais longe e de parar de alimentar os lobos.

Preço Alto Para Produto Ruim

A segurança é uma definição vaga e ideal que não existe no Brasil de hoje. Para onde vão as dezenas de impostos que pagamos se o Estado não cumpre com o dever de assegurar-nos tranqüilidade, paz e qualidade de vida?

Além dos gastos com taxas e impostos para isso e aquilo, temos que ter dinheiro para pagar seguros, trancas, cadeados, correntes, ‘flanelinhas’; para consertar a suspensão do carro que quebra ao cair nos buracos das vias públicas; para pagar médicos que possam nos atender no momento em que estamos doentes, sem filas; para pagar escola decente, e por aí vai. Pagamos em dobro e recebemos a menos da administração pública.

Aliás, falando em público, para começo de conversa, os tais ‘homens públicos’ que criam leis e ditam o que é certo e errado nem poderiam exercer cargos de tamanha responsabilidade sem o devido preparo, sem um currículo experiente e com a ficha criminal que muitos apresentam. E nem deveriam ser denominados ‘públicos’ ao legislar em causa própria e pensarem primeiro em si para depois voltarem-se ao coletivo e ao povo, razão de estarem onde estão. Deveriam envergonhar-se da pouca produção, inversamente proporcional aos benefícios e verbas que recebem – convocações e remunerações extras etc. Deveriam ter apenas 30 dias de férias, como os cidadãos brasileiros que têm a sorte de terem um trabalho formal e digno – e infelizmente nem todos o têm.

Desculpem, volto ao tema em questão: a segurança. Clamo pela conscientização daqueles que teriam o poder de mudar leis caducas e ineficazes – o código penal é vergonhoso! Progressão de pena é algo retrógrado e que só leva à impunidade e ao aumento da violência e do mercado do crime. Ninguém vê isso??

Não entendo onde está a dificuldade de encontrar soluções para a esculhambação vigente. Por que não transformar, por exemplo, as prisões em indústrias? Chamar a iniciativa privada a investir em tecnologia, segurança máxima, controles eletrônicos para impedir a entrada de armas, drogas, telefones. Em troca, dispor da mão-de-obra barata de indivíduos que deveriam trabalhar para pagar o gasto que representam ao erário. Para efetivamente pagar pelos crimes que cometeram. Tal sistema traria benefícios para todos, inclusive para os detentos, que teriam a possibilidade de terem ocupação, experiência de trabalho e perspectivas. E beneficiaria a nós, sociedade ameaçada pela falta de futuro, pelo presente sinistro à mercê do crime organizado e inteligente. Muito mais inteligente do que o Estado.

Deveríamos exigir Segurança, Saúde, Educação, asfalto de qualidade – como anda a coisa, o buraco em que vivemos fica cada vez maior... Precisamos exigir pulso firme, uma contrapartida ao que nós pagamos em impostos. Queremos ter direitos, não só deveres, medos, raiva, desgosto. Quem nos defenderia de continuar pagando preço tão alto para receber um produto de tão má qualidade? A quem recorrer? Aos 0800 que nos atendem anônima e precariamente? Será que Deus tem algum SAC*?

*Serviço de Atendimento ao Consumidor

O Poder

Poder
s. m.,
o poder seduz, convence, encanta, atrai, provoca, desafia, apraz, regozija, transforma, corrompe, cega, humilha, assoberba, invade, domina, desvirtua, desvia, infla, enche, envaidece, inebria, extasia, anestesia, dessensibiliza, envergonha, choca, decepciona, enoja, repugna, revolta etc.

Lendo essas associações, quem não pensou em homens que vivem da Política?

Política
s. f.,
ciência do governo das nações;arte de dirigir as relações entre os Estados;princípios que orientam a atitude administrativa de um governo;conjunto de objetivos que servem de base à planificação de uma ou mais atividades;fig.,
astúcia;maneira hábil de agir;civilidade.

Há, nesses conceitos, algo que diga que a Política é a arte de governar em prol de quem é governado? Deveriam esses senhores (e, em menor parcela, senhoras) colocar o bem comum como prioridade? Deveriam ter vergonha de desviar verbas? de se beneficiarem ao aprovar projetos em troca de recompensas diversas? Deveriam ter escrúpulos e se sentir culpados por ficarem ricos trabalhando menos e por manter os pobres mais pobres, trabalhando mais?

Democracia
s. f.,
sistema político fundamentado no princípio de que a autoridade emana do povo (conjunto de cidadãos) e é exercida por ele ao investir o poder soberano através de eleições periódicas livres, e no princípio da distribuição equitativa do poder;país em que existe um governo democrático;governo da maioria;sociedade que garante a liberdade de associação e de expressão e na qual não existem distinções ou privilégios de classe hereditários ou arbitrários.

Convenientemente criou-se um termo para fazer crer ao povo que é possível ter vez sendo povo. Onde, no Brasil atual, se vê distribuição eqüitativa de poder? Liberdade de expressão dissociada de poder econômico? Privilégios aos menos abastados?

Fantasia
s. f.,
imaginação;em que há imaginação;obra de imaginação;devaneio, sonho, ficção.

A verdade é que, com nosso conformismo, vivemos a alimentar a fantasia, o “faz-de-conta que está tudo bem”. Podemos até sonhar e esperar que os verbetes utilizados para descrever a situação de nosso querido Brasil melhorem com o tempo, o amadurecimento e a conscientização das gerações futuras. Porém, enquanto o poder estiver em mãos erradas, até nos sonhos, só o que nos resta é lamentar.

29 de maio de 2007