sábado, 5 de julho de 2008

Impotência - pelo "planejamento familiar"

Hoje gostaria de contar a história de Maria: brasileira, pobre, trabalha em Brasília e vive numa cidade de Goiás. Tem 42 anos e acaba de dar à luz ao seu sexto filho. Trabalhando como diarista – opção que lhe rende um salário melhor mas que não lhe dá nenhuma segurança, Maria um dia me pediu ajuda para ligar as trompas! Contou-me que é complicado, que não se deu bem com a pílula e a burocracia é tanta que, mesmo que o parto fosse cesariana, não ligariam pois ela teria primeiro que entrar numa fila e que isso levava tempo...

O que eu poderia fazer para ajudá-la, meu deus?! Isso é ainda por cima ilegal!! Fiquei angustiada desde então. Soube que dois de seus filhos têm dificuldades de aprendizado. Pela idade, pela quantidade de filhos e pelas circunstâncias, imagino que ela teria prioridade na tal fila...enfim...

Na noite que foi para o hospital, o pai da criança – que não é o mesmo dos outros filhos – me ligou informando onde ela tinha sido internada. Comecei a telefonar para o tal hospital na esperança de sensibilizar as pessoas para o problema mas o telefone estava ocupado e continuou ocupado por horas. Desisti. Nem resolveria tentar. Nem poderia estar tentando!!

Que sistema é este que não ajuda pessoas nessas circunstâncias? Por que não prescrevem a ligadura no pré-natal e resolvem de vez o problema? Idade, quantidade de filhos, crianças com problemas e baixa renda familiar já são argumentos irrefutáveis! Que a interessada assine um termo se responsabilizando pela decisão perante a lei. Até quando outros decidirão pelo indivíduo interessado?

Continuo não acreditando num país que não faz uma política de controle de natalidade ostensiva – termo que, por lei, é proibido! Que se faça, então, o tal “planejamento familiar”. Ninguém fala sobre o assunto, por que??? Famílias passando fome com 6, 8, 10 filhos! O “Fome Zero” pouco ajudará enquanto ninguém pensar em diminuir a taxa de natalidade entre os que não têm condições. Criminalidade, drogas, problemas sociais que crescem em proporção geométrica... Por que, meu deus, não ajudam as pessoas a terem menos filhos?? Distribuir camisinhas infelizmente não basta – homens recusam-se a usá-la. Imagino que a gravidez seja o problema menor, com a proliferação da Aids e de doenças sexualmente transmissíveis...

Fico mais abismada é com a atitude retrógrada da igreja (neste momento de revolta, não acho que a instituição mereça ter seu nome escrito em maíuscula), cujos representantes pregam contra a camisinha, contra os métodos contraceptivos. A miséria e as doenças às quais estão expostas as populações sem recurso e sem informação não os atingem. Que podem saber de sexo, de filhos, de família, de miséria os que vivem enclausurados e não têm experiência no assunto?! Francamente, não aceito a atitude desumana das pessoas que não fazem nada para conter o avanço das DSTs e o aumento da miséria e de suas conseqüências sociais. Não posso crer naqueles que não evoluem, que não aceitam avanços da ciência, que não acompanham as mudanças na sociedade, que não entendem que a fome, a pobreza e as desgraças podem ser minimizadas com inteligência e racionalidade.

Não adianta ensinar Maria a usar camisinha se o pai desta criança – ou das próximas –não aceitar usar. Não adianta dar conselhos, rezar. Comprei algumas roupinhas para o bebê e lamentei a minha impotência – e a do sistema – em ajudar.

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