sábado, 5 de julho de 2008

Profissão Sem Teto

Em Brasília, grupos de prédios residenciais são chamados de Quadras. Entre essas, a Super Quadra Sul 308 é considerada quadra-modelo de urbanismo da cidade, abrigando três escolas, uma igreja e um centro cultural. Tombada pelo patrimônio, virou atração turística e recebe regulares visitas de viajantes brasileiros e estrangeiros.

Recentemente a quadra vem sendo habitada por um tipo nada honroso de moradores: andarilhos aparentemente sem-teto que dormem, bebem, comem, fazem sexo, mijam e até defecam a céu aberto. Insalubre, ultrajante. Engana-se ,entretanto, quem pensa que não têm casa. Uma das mulheres do grupo falava outro dia ao telefone público: “fulana, traz roupa para as crianças!"

Moradores abismados e assustados com o que vêem e ouvem fazem apelo à polícia, que parece não possuir mecanismos de ação nem autonomia nesses casos. O que registrar como ocorrência afinal de contas?

Zeladores e moradores dos blocos vizinhos aos gramados e calçadas tomados pelo grupo são obrigados a conviver diariamente com o barulho, a sujeira e o clima de insegurança provocados pelos pedintes que, sob o efeito do álcool, ameaçam e mexem com quem passa.

Os clientes e as sobras dos supermercados e dos restaurantes da vizinhança seriam os alvos do bando. Nada mais explicaria a presença dessas pessoas – homens e mulheres com crianças, cachorros e cavalos, aboletados dia e noite e afugentados apenas temporariamente pela chuva e por seguidos “baculejos” policiais.

Nada, porém, parece amedrontá-los ou convencê-los de sair dali. Pessoas bem vestidas são vistas freqüentemente entre eles, em estranhas e demoradas conversas. Seria esse um movimento organizado para a promoção da baderna e de conflitos sociais? Estaria algum político oportunista apenas esperando uma próxima época eleitoreira ou uma jogada de marketing para apresentar uma solução efetiva? Engenhoso se fosse o caso...

Os supostos Sem-Teto fumam, bebem, comem, divertem-se, zombam de tudo e de todos à volta. Não parecem passar fome nem estar em busca de estudo, moradia ou emprego. Parecem profissionais... mas que nova indústria seria esta? Quem estaria por trás deste grotesco teatro? Ao passar de carro, vê-se que grupos semelhantes espalham-se pela cidade.

Pago IPVA, Seguro Obrigatório e alinhamento de meu carro e fico enfurecida, ano após ano, ao ver os buracos e o asfalto cheio de remendos nas pistas da capital federal. A revolta é a mesma ao ver que o IPTU e todos os outros altos impostos pagos não são utilizados para garantir a segurança e o respeito aos moradores – leia-se trabalhadores, contribuintes e eleitores - de Brasília.

É uma quadra-modelo de vergonha. Não gostaríamos que os turistas fotografassem e exportassem para o mundo imagens que nada mais são do que o registro concreto do descaso das autoridades locais. Do jeito que a coisa está, em breve o “ofício” de mendigo e igualmente o de 'guardador de carro' entrarão no Guia das profissões...

Brasília, 2006 e ainda atual...

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