domingo, 13 de julho de 2008

Reclama mas faz!

O título deste texto foi motivado pela lembrança da máxima “rouba mas faz” pela qual ficou conhecido um famoso político do estado de São Paulo. Política é coisa complicada, envolve muito mais do que eu ou você achamos sobre ética, moral, certo e errado. Uns se elegem para votar projetos de interesse próprio, outros para garantir a impunidade, ou melhor, a imunidade assegurada pelo cargo. Outros elegem-se em nome de terceiros que lhes financiam as campanhas mas não querem aparecer e para quem o importante é influenciar o toma-lá-dá-cá de cargos públicos e o poder de decisão. Sinceramente não sei como dormem fazendo tanta coisa errada, supostamente pelo povo, quando o que fazem é justamente ferrar o povo...

Mas meu texto não é sobre política. É sobre cidadania. É um exercício para tentar entender a dinâmica dos que criticam e nada fazem. Recentemente iniciamos trabalho voluntário para melhorar nossa quadra e passamos a ter contato com esse fenômeno social. Começamos a perceber pessoas que não se comprometem ou se dedicam a nada que envolva tempo e trabalho voluntário, pior ainda: não se informam sobre o que acontece e passam o tempo apenas criticando.

Será que ninguém pensa no bem comum ou na responsabilidade social? Imagino que não devam ter muita familiaridade com termos como voluntariado ou desconhecem completamente a importância, a complexidade e o significado de viver em sociedade.

Deve ser egoísmo ou falta de visão “meter a lenha” em quem investe tempo e tenta criar uma representatividade para a comunidade. Estamos aprendendo que nossos ofícios e telefonemas em nome de todos têm mais poder do que a antiga insatisfação anônima e passiva. Nossa quadra começa a ser conhecida pelas autoridades do Distrito Federal como uma quadra organizada, que reivindica atenção e cuidado do governo e que tem voz.

Decidiu-se cobrar de cada apartamento da quadra uma taxa para ajudar com custos da recém reativada Prefeitura (Associação de Moradores). Entre esses custos há a remuneração de jardineiros fixos e a compra de material de jardinagem, pois a limpeza e a manutenção diária dos espaços verdes da quadra não são infelizmente da alçada do governo. A quadra está visivelmente melhor tratada desde o início das atividades da Prefeitura.

Há custos com fotocópias para fazer chegar aos síndicos e moradores informação sobre o que vem sendo feito e custos com um contador profissional que registra cada despesa e cada entrada de dinheiro. Há também parte dos custos de um jornal que, para ser rodado, depende ainda de publicidade e de diversos voluntários. Não pensem que não gostaríamos de fazer um jornal mais assíduo e mais atrativo. Simplesmente não aparecem voluntários para diagramar, para bater fotos, fazer ilustrações, nem nos chegam sugestões de pautas! Uma única pessoa se comprometeu a redigir notícias. Juntam-se as informações à medida que surgem e então tenta-se viabilizar o jornal, um desafio de persistência!

Dos nove prédios da quadra, um deles, o menor, decidiu que não iria aderir à Prefeitura, num gesto pelo menos preocupante de falta de coleguismo e de espírito coletivo. Entre os moradores desse prédio, um já nos procurou e começou a contribuir isoladamente, atitude fantástica e admirável, pois demonstra consciência. Ou seja, dos dezesseis apartamentos, pelo menos um já percebeu a importância de nossa mobilização.

Dos moradores que vêm contribuindo, alguns começaram a manifestar impaciência e desesperança e ameaçam parar de contribuir. Motivo: a Prefeitura não consegue acabar com os moradores de rua!!!

Gostaríamos que essas pessoas dessem sugestão de como acabar com esses intrusos que estão invadindo não só nossa quadra mas toda a cidade, uma das consequências de anos e anos da “rorização” da qual fomos vítimas e também cúmplices. Pelo que se sabe, extermínio em massa não está entre as atribuições e os objetivos de uma associação de moradores...

Ao contrário das pessoas que reclamam de tudo mas não levantam do sofá, membros voluntários da associação de moradores reúnem-se com frequência com representantes de diversas outras quadras, do Conselho de Segurança da Asa Sul, das polícias civil e militar do Distrito Federal, do Conselho Comunitário do Plano Piloto e da Secretaria de Ação Social. O assunto que mais vem à voga, entre outros ainda piores como tráfico de drogas e assaltos: moradores de rua. Todos enfrentam o mesmo problema. Ninguém conhece solução simples e definitiva.

Nos primeiros meses de atuação da associação de moradores, conseguiu-se desmontar um acampamento armado em pleno espelho d’água e, desde então, por iniciativa dos membros da Prefeitura, que telefonam, mandam ofícios, reclamam e cobram, já foram realizadas diversas diligências de funcionários da Ação Social e da polícia para retirada dos indigentes que são levados a abrigos do governo e, mais dia menos dia, acabam fatalmente voltando.

Há um fator importantíssimo a ser destacado: a lei brasileira não prevê a prisão de pessoas que não estão, em tese, infringindo lei alguma. Os mendigos argumentam o tal “direito de ir e vir” e vão se deslocando de esquina em esquina, se instalando onde conseguem comida, roupas e esmola. A sociedade não ajuda na ação das autoridades e continua mantendo essas pessoas nas ruas. Enquanto isso, os “elementos” vão sujando tudo, fazendo barulho, sexo e necessidades fisiológicas debaixo de nossas janelas.

Os colaboradores da associação de moradores, também vítimas desse mal, revoltam-se em igual medida. TODOS deveriam levantar de seus sofás e contribuir para, juntos, mudarmos essa situação. Temos que tornar pública nossa indignação! Promover caminhadas de protesto, ações de conscientização nas escolas e igrejas, e através da imprensa, para que as pessoas parem principalmente de dar esmola e de ter pena dessa gente. Só assim conseguiremos afastá-los de nossa vizinhança. Por que se instalam próximos a restaurantes, mercados e igrejas? Porque as pessoas ajudam. Que interesse teriam de sair dali? Vida fácil...

Sejamos realistas pois não é pagando simbólicos dez reais por mês (taxa da associação de moradores) que iremos sanar todos os problemas da sociedade e tornar nossa quadra uma ilha da fantasia. Brasília já não é mais a mesma e o que temos que mudar é nossa mentalidade passiva. É hora de agir e não de simplesmente reclamar sem fazer a nossa parte.

Voltando ao “Rouba mas faz” do início deste texto, propomos o “Reclama mas faz” porque ficar sentado reclamando de quem está fazendo alguma coisa é simplesmente inaceitável. Vamos parar com as críticas sem sugestões, sem comprometimento para melhorar. Ninguém da associação de moradores trabalha voluntariamente, à noite e durante finais de semana, porque acha lindo, porque ganha dinheiro – pelo contrário, muitas vezes paga-se do próprio bolso para as coisas acontecerem! Cada um deveria fazer a sua parte ou pelo menos valorizar aqueles que estão comprometidos com o bem estar de todos.

Informe-se sobre o que está acontecendo antes de reclamar. Participe das reuniões em sua comunidade. Venha reclamar conosco das autoridades, dos responsáveis pela segurança, pela limpeza urbana, pela trânsito, pela educação, pois ainda há muito a melhorar em nossa cidade! Afinal, você faz parte da sociedade tanto quanto nós.

3 comentários:

Mwho disse...

As reclamações partem das pessoas que não têm consciência social e não entendem o que é cidadania. Uma iniciativa como a reativação da prefeitura da quadra é fundamental para a discussão dos problemas coletivos e passo fundamental para reduzi-los. Não se abatam com a mesquinharia dos que acham que 10 reais valem mais do que o bem-estar de todos!

Maroto disse...

Depois dessa quero mudar pra Brasília. Mais ainda, pra tua quadra. Prometo contribuir, ir à prefeitura fazer minha parte nas insistências, ir à mídia denunciar, tudinho. Não sou de muita conversa fiada mas sou boa vizinha. Minha família tem um jeitão assim meio esquisito mas somos todos bem intencionados, educados e limpinhos (bem, meu filho de onze anos só é limpinho porque a gente pega no pé, mas até aí acho que tudo bem).
Só não posso mudar pra Brasília... trabalhamos em Porto Alegre. Que aliás, conta aí pros teus vizinhos, está tomada de moradores de rua. Sequer é privilégio do Brasil - uma colega foi a Paris e disse que tb está, fui a Vancouver no ano passado e contei mais de 10 em uma volta no quarteirão. O que falta pra eles, e pra nós também, é as pessoas se tocarem de tudo o que você se tocou. Daí eu não aguentei e escrevi pra elogiar - parabéns!

Marília Serra disse...

agradeço o comentário vindo de Porto Alegre! bom saber que o que a gente escreve encontra algum eco pelo mundo!