terça-feira, 12 de maio de 2009

Distração incendiária

Hoje eu estava especialmente perigosa. Um dia atrás, acometida por uma inflamação no nervo ciático, apelei para minha massagista, que está em plena licença-maternidade, para que me socorresse.

Após uma sofrida mas gostosa sessão de apertos e esfregões, ela me aconselhou a colocar compressa quente. Obedeci e, à noite, fui deitar com uma almofada térmica trazida da Alemanha há cerca de 10 anos. Foi ótimo.

Melhor das dores mas ainda me sentindo moída, resolvi repetir a dose hoje à tarde, enquanto assistia televisão. Como era dia de faxineira, liguei a tal almofadinha na cama do quarto para esquentar e fui até a sala passar alguma instrução.

Ao voltar para o quarto, demorei ainda alguns segundos para entender o que acontecia: uma nuvem de fumaça tomava conta do cômodo. Era a almofadinha que estava pegando fogo e começava a atingir a colcha da cama! Meu reflexo foi desligá-la imediatamente da tomada e depois correr para tentar salvar a colcha e a cama.

Felizmente deu tempo de evitar uma tragédia. A colcha ficou apenas chamuscada, passando também para o lençol. Minha sorte foi que a almofadinha não chegou a ficar em chamas, apenas queimou devido ao curto-circuito em sua resistência, que parou quando desliguei o fio.

O ciático continua doendo mas antes empenada que torrada...

Sopa desidratada...

Como minha geladeira tem um congelador pequeno, um dia desses resolvi fazer um panelão de sopa e levar diversos potes para o apartamento de minha avó, que tem um grande freezer.

Entrei numa dieta para reaver minhas roupas, que há algum tempo vinham “encolhendo”, e passei a substituir refeições antes compostas por macarrões, risotos e sanduíches pelo tal sopão.

Além da sopa, restringi o consumo de doce a frutas. Ao imaginar “aquele” brigadeiro, comecei a traçar dulcíssimas peras, pinhas e caquis. Frutas muito doces e calóricas mas o efeito psicológico de comer frutas é muito importante nessa privação a longo prazo.

Nos momentos mais difíceis, ainda resistindo sem comer carboidrato, mandei ver salsicha com ovo, bifes, atum, sardinha, fingindo fazer a dieta da proteína. Não sei se o fígado gostou da brincadeira mas senti minhas roupas mais folgadas.

Um mês depois de abolir o carboidrato, contei quase quatro quilos a menos, uma vitória para quem não fez exercícios físicos no período. Bem que tentei: nos primeiros dias, levantava de madrugada, ainda escuro, caminhava cerca de uma hora e, ao voltar, fazia 100 abdominais. A falta de comida foi me deixando deprimida e, na segunda semana, não consegui mais acordar. Ainda tentei o squash, pois apenas esportes dinâmicos e de grande impacto me agradam. A fome de bola (e de doces e massas possivelmente) foi tanta que consegui distender o pulso ainda no aquecimento do primeiro dia de jogo e, em seguida, o ombro começou a doer.

Pessoas sedentárias devem ter cuidado ao voltar à ativa. Agora com menos peso, estou ensaiando a volta, mas acho que buscarei aconselhamento profissional para não me machucar.

Voltando à sopa, hoje, em meu segundo dia de férias, ainda controlando a noturna boquinha nervosa, desci com meu cachorro e, toda animada, caminhei em direção à casa da vovó para pegar mais um pote. “Não, um é pouco. Legumes não engordam, vou pegar dois potes de sopa e tomar tudo sozinha”, pensei.

Feliz da vida, coloquei os dois blocos congelados numa panela grande, com um pouco de água, tampei e fui arrumar a casa enquanto esperava. O celular tocou e um colega meu começou a conversar tão animadamente comigo que só fui me dar conta de que algo estava queimando quando a nuvem de fumaça tomou conta da cozinha!

“Minha sopa tá queimando!”, gritei logo despachando meu colega.

O fundo da panela ficou preto, mas ainda pude salvar a camada superficial daquela massa compacta de legumes. Como sempre gostei da raspa de suflês, abstraí o incidente e comi aquilo com grande apetite, convencida de que acabara de reinventar o tal sabor artificial de fumaça utilizado no molho barbecue daquela rede de lanchonetes mundialmente famosa. E o meu era natural!!

Meus dois potes de sopa viraram meio prato de legumes desidratados e o regime foi mais radical do que planejado. O que salvou foi o caqui de sobremesa...

domingo, 10 de maio de 2009

O silêncio dos culpados

“O que mais me preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem caráter, nem dos sem moral. O que mais me preocupa é o silêncio dos bons".

Martin Luther King

O barulho vem de onde? até que horas vão as festas, as baladas debaixo de nossas janelas? quem se diverte não dorme? e quem não dorme o que faz para trabalhar no dia seguinte? e o que faz os pais acharem que o melhor lugar para seus filhos é na rua, onde não podem incomodá-los mas onde acabam incomodando terceiros?

Sugiro romper o silêncio, fazer barulho de dentro pra fora, ou seja, reclamar de quem nos perturba e não engolir como os jornalistas de botequim propõem em suas colunas de jornal sem assunto. Por que não falam de violência, não dão ideias para enfrentarmos problemas sociais, não sugerem alternativas para o crime, o vício? Por que insistem em criticar os bons, quando estes ousam admitir que estão incomodados com a baderna na vizinhança?

E os jovens (as a matter of fact, também sou jovem, gosto de beber, me divertir com amigos, celebrar a vida), além do barulho, fazem muita sujeira. Vejam o cenário no dia seguinte: garrafas, latas, embalagens de comida, papeis, até camisinhas (pelo menos alguns se protegem...). Não conhecem lixeiras e nem se dignam recolher a sujeira que fazem.

O governo peca em não investir em campanhas educacionais para promover os bons modos, a limpeza das ruas. A falta de educação é generalizada, não é privilégio de uma ou outra classe social. Tudo isso é sinônimo de egoísmo, vê-se apenas o próprio umbigo, a própria satisfação, o agora, o fácil, o menos trabalhoso, o mais transgressor, o "foda-se".

Preocupa-me ver os bons resignados ou indiferentes, ver a exceção da podridão e da selvageria virarem regra. O silêncio, nesse caso, implica em concordância e beira a cumplicidade.