sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Só reclamar não adianta

* Marília Serra

Morei no exterior algum tempo quando ainda era estudante. Conheci alguns países e constatei, entre outras coisas pequenas, que é possível viver de maneira organizada e que as ruas podem ser mantidas limpas, por exemplo. Basta não sujar.

Nesses países, você paga impostos altos e tem retorno na forma de transportes coletivos bons, pontuais, limpos e bem mantidos. Há retorno também em educação pública e segurança de qualidade.

Mesmo tendo vivido fora, admito que prefiro viver no Brasil, pelo clima e sobretudo pelo jeito brasileiro de conversar uns com os outros, mesmo não se conhecendo. Numa fila de espera isso faz uma diferença! Há também o aspecto flexível dos brasileiros que nos permite trocar a azeitona por picles num sanduíche, coisa impossível em países nórdicos onde pedir para alguém sair da rotina é como incitar a desordem. Se não está no cardápio, não é possível e ponto final.

Mas há brasileiros que se gabam de terem experiência internacional e vivem criticando o Brasil. “Isso é um absurdo!”, esbravejam à primeira coisa que veem não funcionar ou funcionando de modo “pouco usual”.

Não defendo a complacência, a tolerância e a conivência ante transgressões, muito menos a indiferença e a inércia ao se deparar com atos ilegais ou desonestos. Pelo contrário, sou contra quem critica e não faz nada para mudar aquilo que desaprova.
O que não suporto é conviver com pessoas arrogantes, que passam o tempo reclamando e fazendo pouco das coisas do Brasil. Que se vão, que voltem ao primeiro mundo, ora bolas!

Mas voltemos ao que não funciona aqui, porque isso tem aos montes em nosso maravilhoso país tropical de praias deslumbrantes, pessoas simpáticas, música e futebol envolventes. Há muita coisa errada, muitos atos desonestos em nosso dia a dia, gente que quer levar vantagem, que passa à sua frente numa fila, que te desrespeita sem nenhum pudor, escrúpulo ou culpa.

Na esfera política, há interesses individuais passando a todo momento por cima do coletivo. Há, por exemplo, corrupção na forma de desvios de dinheiro público que deveria ir para a saúde, educação e segurança e esse comum tipo de crime já seria passível de cadeia e punição eterna. Mas a tolerância das leis e de governantes comprometidos com o toma-lá-dá-cá entre partidos faz com que pessoas que cometem esses atos permaneçam ou voltem à vida pública, tornando nosso país um lugar pior para se viver, de fato.

Mas isso não pode ser generalizado. Nem todos são assim e nós, cidadãos corretos e honestos que trabalham e pagam suas contas, não compactuamos com essa falta de vergonha na cara.

Assim, provoco e convoco as pessoas indignadas com coisas erradas a se imporem para reivindicar direitos, a não cederem às tentações do ganho fácil e das vantagens. Dinheiro sujo (ou “lavado”) não vale a pena, pois significa financiamento da miséria e da violência que atinge a todos nós. E vantagens muitas vezes são sinônimo de desonestidade, total falta de ética. E isso ensino a meus filhos que é errado!

Vamos trabalhar e fazer de nosso país um lugar melhor para se viver, de preferência com pessoas de valor, éticas e sérias em postos de liderança. Só reclamar não adianta. Faça a sua parte e participe de movimentos de cidadania em sua vizinhança, sua prefeitura de bairro, sua rua. A mobilização faz a força e a conscientização combate vários males em nossa sociedade.


*Marília Serra é jornalista, servidora pública e acompanha as discussões da Prefeitura e do Conselho Comunitário de seu bairro.

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