segunda-feira, 15 de maio de 2017

Sem Facebook

Brasília, 15/05/2017

Tô há alguns dias sem acessar Facebook.

Mas pera lá! Pra quem este texto irá se não for pros seguidores e amigos virtuais? Talvez seja a hora de reativar meu blog...

Ah solidão e carência de se perceber sem troca alguma de curtidas ou comentários!!! Ninguém pra ver as fotos que postamos, pra reagir a reclamações ou ideias que publicamos.

Mas como era a vida antes das redes virtuais? Deixa eu tentar lembrar: ah, nos tempos de escola, sempre tinha uma melhor amiga com quem batíamos papo horas a fio pelo telefone (com fio) e isso deixava nossos pais desesperados, pensando na conta de telefone no fim do mês. Daí criaram o "salto", aquele sinal sonoro que avisava se alguém tentasse ligar e o telefone estivesse ocupado.

Ah e tinham amigos com quem saíamos pra cinema e lanchonete. E amigos que tínhamos na rua, no prédio, pra quem se interfonava, chamando pra descer e brincar. Ou amigos de cursos, esportes que praticávamos, com quem interagíamos no cotidiano.

E tinham refeições em família, quando uns perguntavam aos outros "como foi seu dia?", "o que você tá lendo?", "como foi a novela ontem?", “como está seu namoro?”ou “por que você tá triste?”.

E não podemos esquecer aquelas saídas com a turma da faculdade ou do trabalho pra falar de política ou filosofar sobre a vida numa mesa de bar.

E fazíamos encontros regulares de família, com direito a registros em fotos Kodak ou Fuji reveladas em 9 x 12 e depois em 10 x 15 cm. Ah mas antes disso tivemos os slides, exibidos em sessões projetadas na parede da sala, com os familiares comentando sobre os lugares visitados e situações vividas.

Sabíamos uns dos outros porque convivíamos, ligávamos uns para os outros, não por compartilharmos de maneira genérica nosso cotidiano numa linha do tempo aberta a conhecidos, colegas e uma rede de contatos que nem sempre reflete nossos laços mais diretos e íntimos. Aliás, pessoas distantes passam a nos acompanhar como se fossem da família, interagindo muito mais do que nossos próprios familiares. Isso leva a refletir sobre as “famílias”que vão se formando a partir de amizades, pessoas que se aproximam por compartilharem objetivos de vida e pontos de vista.

A intimidade, aliás, deixou de ser reservada, deixou de ser íntima!!! Não existe mais!

Acostumamo-nos a dizer onde vamos, com quem estamos, o que comemos, para onde viajamos, em quem votamos ou não votamos, quem odiamos, sem nenhum pudor ou cuidado. Ninguém se importa mais se palavras magoam, se ideologias têm maior valor que amizades, elos e sentimentos entre as pessoas.

Depois de alguns dias de abstinência virtual, zonza, trêmula, desintoxicando-me de um vício mais forte do que químico. Sinto-me sozinha sem o hábito de ver a vida dos outros passar no rolar da tela, e sem falar da minha vida e assim me sentir acompanhada pelas curtidas e comentários. De pensar que há pessoas que vivem sem isso e se sentem felizes! Talvez por isso vivam em paz e sejam de fato felizes...

Decidi parar ou dar uma pausa. Vinha me sentindo sozinha pelas centenas de amigos virtuais que gostaria que fossem mais reais, mais concretos. Andava cansava da enxurrada de agressões, piadas e acusações partindo da esquerda ou da direita; das correntes de "copie e cole no seu mural"; dos dias de luto generalizado e de homenagens sem fim após a morte de cada celebridade.

Como agência de notícias não há nada mais rápido do que as redes sociais, admito. As pessoas correm pra publicar as novidades, como se fossem jornalistas dando "furos" e muitos – como eu! – se informam por ali, ao mesmo tempo em que se atualizam com o equivalente virtual à revista Caras!!!

Mas as redes também funcionam para propagar boatos e têm o devastador poder de destruir vidas e reputações. Basta um mal- intencionado postar algo contra alguém que a coisa se espalha, sem nenhuma apuração. Condena-se sem qualquer análise, antes mesmo da existência de uma acusação formal. Simplesmente denigre-se a imagem de uma pessoa apenas porque o caluniador assim decidiu e propagou. Julgamentos e inquisições da era moderna...

Para suprir a falta de contato com o mundo, passei então a buscar informações nos portais de jornalismo, que se copiam e exibem os mesmos assuntos, com manchetes ligeiramente modificadas, intercalados por fofocas e curiosidades. E, claro, repletas de anúncios que nos saltam na tela, trazendo sempre artigos relacionados a nossas buscas e pesquisas recentes. Marketing direto, indigesto, inoportuno, desagradável.

Mas as redes sociais são boas mesmo é para fazer o tempo passar. Fila de banco e espera em consultório médico agora não são mais a tortura de antigamente. "Já?!", lamentamos quando chega nossa vez e precisamos nos desligar das redes e dos grupos.

Hoje, você publica uma foto e depois fica vendo quem a curtiu. Você faz uma publicação e torce para ter centenas de curtidas e comentários. Fica monitorando cada reação a suas publicações. Narcisismo, vaidade, exibicionismo? Solidão, carência? Interesse, poder, fama? A popularidade poderia significar compensação ao vazio da vida real, ou estratégia para futuros projetos que envolvam notoriedade, atestado de vida pública, pseudo-credibilidade. Ou simples alimento para a alma, troca de ideias sobre determinado tema, debate virtual, sondagem de opinião, provocação intelectual. Diversos são os usos e fins possíveis.

Alguns usam as redes para expor sua preocupação social, inspiram o altruísmo, estimulam suas redes a se engajarem em causas humanitárias, promovem campanhas solidárias ou de conscientização sobre certos temas. Aqui entramos todos nós, inconformados com as injustiças, as desigualdades, a violência, o preconceito de todo tipo. De boas intenções as redes também estão cheias. Que bom, afinal, precisamos continuar fazendo o bem e acreditando nele!

Outros divulgam dicas de segurança – ou de sobrevivência, pois vivemos no país da impunidade e dos esquemas de corrupção em todas as esferas. Com a falta de Educação e a escassez de oportunidades, quem se profissionaliza e enriquece são os golpistas e bandidos. Devemos ficar atentos e suspeitar de tudo que nos chega por mensagens, links, sites, pop-ups, enfim, golpes chegam todos os dias. Na dúvida, não clique em nada e não compartilhe!

Ah mas de todos os usos, aquele que mais me interessa pessoalmente é poder declarar o amor, seja à mãe, ao pai, aos filhos, aos amigos, irmãos, seja à mulher ou ao homem amado. Não basta sussurrar no ouvido, na hora de dormir ou nos momentos de intimidade! Falar aos quatro cantos, estampar nas paredes e muros e se declarar amante (= aquele que ama) é muito mais legal e emocionante!

Quem escreve sente tesão em falar de amor, de paixão, de alegria, de tristeza, de dor, de prazer, de sonho, de sentimento! Escrevemos para expressar emoções e também para emocionar ou provocar alguma reação em quem lê. Como hoje não se vende livro como se vendem séries de TV ou pacotes de dados, publicamos virtualmente os textos que há tempos atrás comporiam obras literárias impressas. Mas as redes sociais teriam alguma forma de compilar e salvar os textos que publicamos, com o devido crédito do autor (nós mesmos)? Ou tudo estaria fadado ao anonimato (ou à falsa titularidade atribuída a qualquer famoso), à instantaneidade e à perenidade do virtual? Afinal, nem cinzas sobram do que não se pode tocar!

Agradeço a você que leu minhas divagações até aqui! Não precisa compartilhar! Nem curtir! Se algo lhe fez refletir ou sorrir, que ótimo! Quer me chamar para uma cervejinha? Seria ótimo! Vamos esperar surgir uma cerveja virtual de qualidade! Abração!

Marília Serra